O Pico de Temperatura deste Mês Significa o Quê?

O Pico de Temperatura deste Mês Significa o Quê?

Steve Sherwood e Stefan Rahmstorf em The Conversation:

As temperaturas globais para fevereiro revelaram um pico preocupante e sem precedentes. Esteve 1,35℃ mais quente do que a média de fevereiro para o período de linha de base usual de 1951-1980, de acordo com dados da NASA.

Esta é a maior anomalia quente de qualquer mês desde que os registos começaram em 1880. Excede em muito os recordes batidos em 2014 e novamente em 2015 (o primeiro ano em que a marca de 1℃ foi ultrapassada).

No mesmo mês, a cobertura de gelo marinho do Ártico atingiu o seu valor mais baixo para fevereiro jamais registado. E a concentração de dióxido de carbono na atmosfera no ano passado aumentou mais de 3 partes por milhão, outro recorde.

O que é que se passa? Estamos diante de uma emergência climática?

Toca a acordar
Toca a acordar! Situação de emergência de aquecimento global com pico de temperatura de fevereiro

Desvio da média de 1951-1980 das temperaturas para fevereiro entre 1880 e 2016
Temperaturas de fevereiro de 1880 a 2016, a partir de dados da NASA GISS. Os valores são desvios do período base de 1951-1980. Stefan Rahmstorf
O El Niño e a Mudança Climática

Duas coisas que se estão a combinar para produzir o calor recorde: a tendência de aquecimento global que nos é bem conhecida causada pelas nossas emissões de gases de efeito estufa, e um El Niño no Pacífico tropical.

O registo mostra que o aquecimento da superfície global foi sempre sobreposto pela variabilidade climática natural. A maior causa dessa variabilidade é o ciclo natural entre as condições de El Niño e La Niña. O El Niño em 1998 bateu os recordes, mas agora temos um que parece ser ainda maior em algumas medidas.

O padrão de calor em fevereiro mostra assinaturas típicas tanto do aquecimento global a longo prazo como do El Niño. Este último é muito evidente nos trópicos.

Mais ao norte, o padrão é semelhante a outros fevereiros desde o ano 2000: um aquecimento particularmente forte no Ártico, Alasca, Canadá e no norte do continente Euro-Asiático. Outra característica notável é uma bolha fria no Atlântico Norte, que tem sido atribuída a um abrandamento na Corrente do Golfo.

O pico de aquecimento de Fevereiro trouxe-nos pelo menos 1,6℃ acima dos níveis pré-industriais das temperaturas médias globais. Isto significa que, pela primeira vez, ultrapassámos a meta aspiracional internacional de 1,5℃ acordada em dezembro, em Paris. Estamos a chegar desconfortavelmente perto de 2℃.

Felizmente, isto é temporário: o El Niño está a começar a diminuir.

Infelizmente, fizemos pouco quanto ao aquecimento subjacente. Se não for controlado, isso fará com que esses picos aconteçam mais e mais vezes, com um pico maior que 2℃ a estar talvez apenas a um par de décadas de distância.

Os gases de efeito estufa que aquecem lentamente a Terra continuam a aumentar em concentração. A média de 12 meses ultrapassou as 400 partes por milhão mais ou menos há um ano – o nível mais alto em pelo menos um milhão de anos. A média subiu ainda mais rápido em 2015 do que nos anos anteriores (provavelmente também devido ao El Niño, pois isso tende a trazer seca para muitas partes do mundo, o que significa que menos carbono é armazenado no crescimento de plantas).

Um lampejo de esperança é que as nossas emissões de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis, pela primeira vez em décadas, pararam de aumentar. Esta tendência tem sido evidente ao longo dos dois últimos anos, principalmente devido a um declínio do uso do carvão na China, que anunciou recentemente o encerramento de cerca de 1.000 minas de carvão.

Temos subestimado o aquecimento global?

Será que o “pico” muda a nossa compreensão do aquecimento global? Ao pensar sobre a mudança climática, é importante adotar uma visão de longo prazo. Uma situação tipo La Niña predominante nos últimos anos não significou que o aquecimento global tinha “parado”, como algumas figuras públicas estavam (e provavelmente ainda estão) a reivindicar.

Da mesma forma, um pico quente devido a um grande evento El Niño – mesmo que surpreendentemente quente – não significa que o aquecimento global tenha sido subestimado. No longo prazo, a tendência de aquecimento global está muito bem de acordo com as previsões de longa data. Mas essas previsões, no entanto, pintam um retrato de um futuro muito quente se as emissões não forem reduzidas em breve.

A situação é semelhante à de uma doença grave como cancro: o paciente normalmente não fica ligeiramente pior a cada dia, mas tem semanas em que a família pensa que ele pode estar a recuperar, seguidas de dia terríveis de recaídas. Os médicos não mudam o seu diagnóstico de cada vez que isso acontece, porque eles sabem que isto faz tudo parte da doença.

Embora o corrente pico derivado do El-Niño seja temporário, vai durar tempo suficiente para ter algumas consequências graves. Por exemplo, um evento maciço de branqueamento de coral parece provável na Grande Barreira de Corais.

Aqui na Austrália temos vindo a bater recordes de calor nos últimos meses, incluindo 39 dias seguidos em Sydney acima de 26℃ (o dobro do recorde anterior). As notícias parecem estar centradas no papel do El Niño, mas o El Niño não explica por que os oceanos ao sul da Austrália, e no Ártico, estão em temperaturas altas recorde.

A outra metade da história é o aquecimento global. Isto está a impulsionar cada El Niño sucessivo, juntamente com todos os seus outros efeitos sobre as camadas de gelo e o nível do mar, o ecossistema global e eventos climáticos extremos.

Esta é a verdadeira emergência climática: está a ficar mais difícil, a cada ano que passa, para a humanidade evitar que as temperaturas subam acima de 2℃. Fevereiro devia lembrar-nos o quão urgente é a situação.

Este artigo foi primeiramente publicado em AquecimentoGlobal.info, um site destinado a agregar a mais recente ciência sobre as alterações climáticas e o consequente aquecimento global. Foi traduzido do original What Does This Month’s Temp Spike Mean? de Peter Sinclair, publicado no blogue Climate Denial Crock of the Week, a 16 de Março de 2016.

O Telhado Está a Arder – Parece que Fevereiro de 2016 Esteve 1.5 a 1.7 C Acima das Médias de 1880

O Telhado Está a Arder – Parece que Fevereiro de 2016 Esteve 1.5 a 1.7 C Acima das Médias de 1880

Sugerimos a leitura deste conteúdo num site com melhor atualização e variedade de publicações sobre alterações climáticas: Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática

Antes de começarmos a explorar esta instância mais recente e mais extrema de uma longa série de temperaturas globais de quebrar recordes, devíamos ter um momento para creditar os nossos “amigos” negadores da mudança climática pelo que está a acontecer no Sistema Terra.

Durante décadas, uma coligação de interesses especiais em combustíveis fósseis, investidores de grandes negócios, grupos de reflexão relacionados, e a grande maioria do Partido Republicano, têm lutado estridentemente para evitarem uma acção eficaz na mitigação dos piores efeitos da mudança climática. Na sua louca missão, eles atacaram a ciência, demonizaram líderes, paralizaram o Congresso, mancaram o governo, apoiaram combustíveis fósseis destinados a falhar, impediram ou desmancharam regulamentação útil, tornaram o Supremo Tribunal numa arma contra as soluções de energias renováveis, e puseram abaixo indústrias que teriam ajudado a reduzir o dano.

Através destas ações, eles têm sido bem sucedidos na prevenção da mudança rápida e necessária de desistência da queima de combustíveis fósseis, travando uma liderança americana florescente em energias renováveis ​​e ao inundarem o mundo com o carvão, petróleo e gás de baixo custo, que são agora tão destrutivos para a estabilidade do Sistema Terra. Agora, parece que alguns dos impactos mais perigosos das alterações climáticas já estão garantidos. E assim, quando a história olha para trás e pergunta – por que fomos tão estúpidos? Podemos honestamente apontar os nossos dedos para aqueles ignorantes e dizer “aqui estavam os sumo sacerdotes infernais que sacrificaram um futuro assegurado e a segurança dos nossos filhos no altar de seu orgulho tolo.”

Piores Receios para o Aquecimento Global Realizados

Sabíamos que ia haver sarilho. Sabíamos que as emissões de gases de efeito estufa humanas tinham carregado o oceano global com calor. Sabíamos que um El Nino recorde iria explodir um grande bocado desse calor de volta para a atmosfera assim que começou a desvanecer. E sabíamos que mais recordes da temperatura global estavam a caminho no final de 2015 e início de 2016. Mas tenho que admitir que os primeiros indícios para fevereiro são simplesmente assombrosos.

Aquecimento Global Extremo - temperaturas

(O modelo GFS mostra temperaturas com médias de 1.01 C acima da já significativamente mais quente do que o normal linha de base de 1981-2010. Observações subsequentes a partir de fontes independentes confirmaram este pico dramático da temperatura para fevereiro. Aguardamos as observações da NASA, NOAA e JMA para uma confirmação final. Mas a tendência nos dados é surpreendentemente clara. O que estamos a ver são as temperaturas globais mais quentes, de longe, desde que os registos começaram. Note-se que as maiores anomalias de temperatura aparecem exatamente onde não as queremos – no Ártico. Fonte da imagem: GFS e MJ Ventrice).

Eric Holthaus e MJ Ventrice, na segunda-feira, foram os primeiros a dar o aviso de um pico extremo nas temperaturas tal como registado pela medição global por satélite. Seguiu-se uma série de relatos dos mídia. Mas foi só hoje que começámos realmente a ter uma visão clara do potencial de danos atmosféricos.

Nick Stokes, um cientista do clima aposentado e blogger em Moyhu, publicou uma análise dos dados preliminares recentemente libertados pela NCAR e o indicador está simplesmente elevado de modo absolutamente fora de série. De acordo com esta análise, as temperaturas de fevereiro podem ter estado tanto quanto 1,44 C mais quentes do que a linha de base da NASA de 1951-1980. Convertendo as diferenças a partir dos valores da década de 1880, se estas estimativas preliminares se confirmarem, iriam colocar os números do GISS nuns extremos 1,66 C mais quentes do que os níveis de 1880 para fevereiro. Se o GISS corre 0,1 C mais frio do que as conversões NCAR, como tem feito ao longo dos últimos meses, então o aumento de temperatura de 1880 a fevereiro de 2016 seria de cerca de 1,56 C. Ambos são saltos incrivelmente altos que deixam uma dica de que 2016 poderia vir a ser bastante mais quente do que até mesmo 2015.

É importante notar que grande parte destas temperaturas globais elevadas recorde estão centradas no Ártico – uma região que é muito sensível ao aquecimento e que tem o potencial de produzir uma série de feedbacks amplificadores perigosos. Assim, poderíamos muito bem caracterizar um fevereiro quente recorde iminente como um no qual muito do excesso de calor explodiu no Ártico. Por outras palavras, os gráficos da anomalia da temperatura global fazem parecer que o teto do mundo está em chamas. Isso não é literal. Grande parte do Ártico permanece abaixo de zero. Mas anomalias de 10 a 12 C acima da temperatura média para um mês inteiro em grandes regiões do Ártico é um assunto sério. Isso significa que grandes partes do Ártico não experienciaram nada que se aproxime de um verdadeiro inverno no Ártico este ano [Artigo em Português].

Parece que o Limiar de 1,5 C foi Quebrado na Medição Mensal e Podemos Estar a Olhar para 1,2 a 1,3 C+ Acima de 1880s para todo 2016

Colocando estes números em contexto, parece que podemos ter já ultrapassado o limiar de 1,5 C acima dos valores dos anos de 1880 na medição mensal em fevereiro. Isto está a entrar num campo de riscos elevados para a aceleração do derretimento do gelo marinho e da neve no Ártico, perda de albedo, descongelamento da permafrost e uma série de outros feedbacks relacionados amplificadores de um aquecimento do nosso mundo forçado por humanos. Um conjunto de mudanças que irão, provavelmente, adicionar à velocidade de um, já rápido de si, aquecimento baseado em combustíveis fósseis. Mas devemos ter muito claro que as diferenças mensais não são diferenças anuais, e que a medida anual para 2016 é menos provável de vir a atingir ou exceder a diferença de 1.5 C. É justo dizer, porém, que diferenças anuais de 1,5 C são iminentes e vão provavelmente aparecer dentro de 5 a 20 anos.

Se usarmos o El Nino de 1997-1998 como base, descobrimos que as temperaturas globais para esse evento atingiram um máximo de cerca de 1,1 C acima das médias da década de 1880 durante fevereiro. O ano, contudo, ficou em cerca de 0,85 C acima das médias de 1880. Usando uma análise semelhante de verso de guardanapo, e assumindo que 2016 irá continuar a ver as temperaturas de superfície do mar Equatorial a continuarem a arrefecer, podemos estar a olhar para 1,2 a 1,3 C acima da média de 1880 para este ano.

Previsao para El Nino - Anomalia da Temperatura

(O El Nino está a arrefecer. Mas continuará a arrastar-se até 2016? Os conjuntos do modelo do Climate Prediction Center CFSv2 [Centro de Previsão Climática] parecem pensar que sim. A execução mais recente mostra a corrente El Nino a refortalecer-se no Outono de 2016. Tal evento tenderia a empurrar as temperaturas globais anuais para mais perto de 1,5 C acima do limiar da década de 1880. Também estabeleceria o potencial externo para mais um ano quente recorde em 2017. É importante notar que o consenso da NOAA ainda é o de um ENSO Neutro a enfraquecer as condições de La Niña pelo Outono. Fonte da imagem: Centro de Previsão do Clima da NOAA).

A NOAA está presentemente a prever que o El Nino fará a transição para ENSO Neutro ou para uma la Nina fraca, pelo final do ano. Contudo, algumas execuções de modelos mostram que o El Nino nunca chega a terminar realmente para 2016. Em vez disso, estes modelos prevêm que um El Nino fraco a moderado venha no Outono. Em 1998, um forte La Nina começou a formar-se, o que teria ajudado a conter as temperaturas atmosféricas no final do ano. A previsão de 2016, contudo, não parece indicar tão grande assistência no arrefecimento atmosférico proveniente do sistema oceânico global. Então, as médias anuais no fim de 2016 poderão empurrar mais para perto de 1,3 C (ou um pouco mais) acima dos níveis da década de 1880.

Tivemos Este Aquecimento no Sistema Já Há Algum Tempo, Apenas Estava a Esconder-se nos Oceanos

Outro pedaço do contexto sobre o qual devíamos ser muito claros, é que o Sistema Terra tem estado a viver com o calor atmosférico que estamos a ver agora há algum tempo. Os oceanos iniciaram uma acumulação muito rápida de calor devido ao forçamento das emissões de gases de efeito estufa durante os anos 2000. Uma taxa de acumulação de calor nas águas do mundo que tem acelerado até ao presente ano. Este excesso de calor já impactou o sistema climático ao acelerar a desestabilização dos glaciares na zona basal na Gronelândia e na Antártida. E também contribuiu para novas perdas recorde do gelo marinho global e é uma fonte provável de relatórios das zonas de plataforma continental do mundo nas quais têm sido observadas pequenas, mas preocupantes, instabilidades nos clatratos.

Acumulação de calor pelo oceano global

(A acumulação de calor no oceano global tem estado a subir em rampa desde o final dos anos 1990, com 50 por cento da acumulação total de calor a ocorrer nos 18 anos entre 1997 e 2015. Uma vez que mais de 90 por cento do forçamento de calor pelos gases de efeito estufa acaba no sistema do oceano global, esta medida em particular é provavelmente a imagem mais precisa de um mundo em rápido aquecimento. Uma tão rápida acumulação de calor nos oceanos do mundo garantiu uma eventual resposta da atmosfera. A verdadeira questão agora é – quão rapidamente e quão extensa? Fonte da imagem: Nature).

Mas elevar o aquecimento atmosférico terá inúmeros impactos adicionais. Irá colocar pressão sobre as regiões de superfície dos glaciares globais, adicionando ao aumento repentino na pressão de fusão basal que já vimos. Irá amplificar ainda mais o ciclo hidrológico – aumentando as taxas de evaporação e precipitação em todo o mundo e amplificando secas extremas, incêndios e inundações. Vai aumentar as temperaturas de superfície globais de pico, aumentando assim a incidência de eventos de baixas em massa por vagas de calor. Irá fornecer mais energia de calor latente para as tempestades, continuando a empurrar para cima o limiar de intensidade de pico destes eventos. E vai ajudar a acelerar o ritmo das mudanças regionais nos sistemas climáticos tais como a instabilidade do tempo no Atlântico Norte e aumentar a tendência de seca nos EUA (especialmente o Sudoeste dos EUA).

Entrando na Zona Perigosa da Mudança Climatica

O intervalo de 1-2 C acima das temperaturas da década de 1880 em que estamos agora a entrar é um em que as mudanças climáticas perigosas tenderão a crescer de forma mais rápida e aparente. Tal calor atmosférico não tem sido experienciado na Terra em pelo menos 150.000 anos, e o mundo de então era um lugar muito diferente daquilo a que os seres humanos foram acostumados no século 20. Contudo, a velocidade a que as temperaturas globais estão a subir é muito mais rápida do que alguma vez foi visto durante qualquer período interglacial para os últimos 3 milhões de anos, e é provavelmente ainda mais rápido do que o aquecimento observado durante eventos de extinção por efeito de estufa como o MTPE e o Permiano. Esta velocidade de aquecimento irá quase certamente ter efeitos adicionados para além do contexto do paleoclima.

Anomalia dos Graus-Dia no Artico

(Quem olha para o gráfico de anomalia da temperatura no topo deste post pode ver que uma quantidade desproporcional da anomalia da temperatura global está a aparecer no Ártico. Mas a região do Extremo Norte acima da linha de Latitude de 80 graus está entre as regiões que experimentam anomalias do pico global. Lá, graus-dia abaixo de zero estão nos níveis mais baixos já registados – atingindo agora uma anomalia de -800 no registo do Ártico. Em termos simples – quanto menos graus-dia abaixo de zero o Ártico experiencia, o mais próximo estará de derreter. Fonte da imagem: CIRES / NOAA).

Um último ponto a deixar claro e que vale a pena repetir. Nós, ao darmos ouvidos aos negadores da mudança climática e deixarmos que entupam as obras políticas e económicas, provavelmente já trancámos no sistema alguns dos efeitos negativos das alterações climáticas, que poderiam ter sido evitados. O tempo para darmos ouvidos a esses tolos acabou. O tempo para arrastar os pés e andar com meias-medidas está agora a chegar ao fim. Precisamos de uma resposta muito rápida. Uma resposta que, neste momento, ainda está a ser adiada pela indústria de combustíveis fósseis e os negadores da mudança climática que incitaram a sua beligerância.

Links:

O Velho Normal Já Era

NASA GISS

Quente Quente Quente

Michael J. Ventrice

Ártico Sem Inverno em 2016 [Traduzido em Português]

Grande Salto nas Medições da Temperatura à Superfície e pelo Satélite

Centro de Previsão Climática da NOAA

Captação de Calor pelo Oceano Global na Era Industrial Duplica em Décadas Recentes

CIRES / NOAA

Governadores Republicanos Processam para Pararem o Plano de Energia Limpa

Traduzido do original The Roof is On Fire — Looks like February of 2016 Was 1.5 to 1.7 C Above 1880s Averages, publicado por Robertscribbler em http://robertscribbler.com/ a 3 de Março de 2016.

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Ártico Sem Inverno em 2016 – NASA Marca Janeiro Mais Quente Já Registado

Ártico Sem Inverno em 2016 – NASA Marca Janeiro Mais Quente Já Registado

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Os cientistas estão perplexos e nós também devíamos estar. O calor global e especialmente as temperaturas extremamente altas em relação à média que vimos no Ártico ao longo do mês passado são absolutamente sem precedentes. É estranhamente bizarro. E o que parece, para este observador em particular, é que a sazonalidade do nosso mundo está a mudar. O que estamos a testemunhar, neste momento, parece o começo do fim para o Inverno tal como o conhecemos.

Janeiro Mais Quente do Registo – Mas o Ártico Está Simplesmente Bizarro

Qualquer pessoa que observe o Ártico – de cientistas a ambientalistas, a especialistas em ameaças emergentes, a entusiastas do tempo e do clima, até simplesmente pessoas normais, inquietos com o estado do nosso sistema climático global o qual se revela rapidamente – deviam estar muito, muito preocupados. A emissão humana de gases de efeito estufa – agora a empurrar os níveis de CO2 acima das 405 partes por milhão e a adicionar uma série de gases extra que retêm o calor – parece estar a forçar rapidamente o nosso mundo a aquecer. E a aquecer mais rapidamente num dos absolutamente piores lugares que se possa imaginar – o Ártico.

Não só foi este janeiro de 2016 o mês de janeiro mais quente já registado no registo climático global de 136 anos da NASA; não só janeiro mostrou a maior diferença de temperatura em relação à média para um único mês – com 1,13°C acima da linha de base do século XX da NASA, e cerca de 1,38°C acima das médias de 1880 (apenas 0,12°C abaixo da perigosa marca de 1,5°C); como o que observámos na distribuição global dessas temperaturas quentes recorde foi ao mesmo tempo estranho e perturbador.
Anomalia da Temperatura Janeiro de 2016 NASA

(Um mundo quente recorde em janeiro mostra calor extremo no Ártico. O mapa global de anomalia da temperatura da NASA, em acima, sugere que o calor tropical – acentuado por um El Nino recorde – viajou para o norte e pelo Ártico dentro por meio de pontos fracos na corrente de jato sobre a América do Norte Ocidental e a Europa Ocidental. Fonte da imagem – NASA GISS).

Apesar de que o mundo estava quente no seu todo – com o calor do El Nino a dominar as zonas tropicais – os extremos das temperaturas acima da média concentraram-se exatamente no telhado do nosso mundo. Lá, nas terras do Ártico e do gelo glacial e da permafrost agora a descongelar – sobre a Sibéria, sobre o norte do Canadá, sobre o norte da Gronelândia e por toda a zona do Oceano Ártico acima da Latitude Norte 70 – as temperaturas andavam em média entre os 4 e os 13 graus Celsius acima do normal. Isso é entre 7 e 23 graus Fahrenheit mais quente do que o normal para o período extraordinário de um mês inteiro.

E quanto mais para norte se ia, mais calor se obtinha. Acima da linha de Latitude Norte 80, as médias de temperatura para toda a região subiram para cerca de 7,4 graus C (13 graus F) mais quentes que o normal. Para esta área do Ártico, isso é tipo igual à diferença típica entre janeiro e abril (abril é cerca de 8 C mais quente do que janeiro, durante um ano normal). Assim, o que temos visto é absolutamente sem precedentes – no Ártico, para o mês inteiro de janeiro de 2016, as temperaturas foram aquelas de uma primavera.

Desvio das temperaturas em relação à média no Ártico para 2016

(Para janeiro e fevereiro de 2016, a região de Latitude Norte 80 e em direção ao norte experienciou as suas condições mais quentes jamais registadas. As temperaturas mantiveram-se num intervalo de -25 a -15 C para a zona, um conjunto de temperaturas mais típicas de meados ou final de abril. Fonte da imagem: NOAA).

E para o inverno de 2016, é possível que o Ártico nunca experiencie condições típicas. Pois, de acordo com a NOAA, a primeira quinzena de fevereiro viu este calor recorde, tipo Primavera, prolongar-se até hoje. É como se estas zonas mais frias do Hemisfério Norte ainda não tivessem experienciado Invernocomo se a tempestade anormal que levou as temperaturas do Ártico para níveis recorde durante o final de dezembro tenha, desde então, enfiado o termómetro em níveis típicos de abril e o deixado lá preso.

Calor do El Niño Teleconecta com o Polo

Porque é isso tudo tão ameaçador?

Seria mau se fosse o caso em que o calor no Ártico simplesmente resultasse no cada vez mais rápido derretimento dos glaciares – forçando os mares a subirem centímetros, polegadas e pés. Seria muito mau se o aquecimento polar se amplificasse à medida que o gelo branco sobre a terra e sobre o mar regredisse, tornando uma superfície refletora de calor numa característica de absorção de calor azul escura, verde e castanha. Seria surpreendentemente mau se tal calor também resultasse em degelo da permafrost, mais uma vez agravando o aquecimento forçado pelos humanos ao desbloquear até 1.300 biliões de toneladas de carbono e, eventualmente, transferir cerca de metade disso para a nossa atmosfera. E seria muito ruim se todo esse calor extra no Ártico começasse a intrometer-se com o clima do Hemisfério Norte, ao alterar o fluxo da corrente de jato. Resultando em sulcos muito persistentes produtores de secas e depressões produtoras de tempestades.

Ondas de Amplitudes Elevadas na Corrente de Jato

(Ondas de amplitudes elevadas na Corrente de Jato – uma sobre a parte ocidental da América do Norte e uma segunda sobre a Europa – transferem calor de Latitudes inferiores para o Ártico durante um ano de El Nino a 7 de fevereiro de 2016. Enquanto a amplificação polar encrencava em novos extremos durante os meses quentes recorde de dezembro e janeiro, parecia que a capacidade do El Nino para fortalecer a Corrente de Jato, e assim separar o calor equatorial do Polo frio, havia sido comprometida. Fonte da imagem: Earth Nullschool).

Infelizmente, estes eventos já não são apenas hipotéticos. O gelo do mar está a recuar. A permafrost está a descongelar. Os glaciares estão a derreter. E o fluxo da Corrente de Jato parece estar a enfraquecer.

Mas e se todo esse acumular polar de calor devido à queima de combustíveis fósseis pelos humanos tivesse ainda mais um efeito adicional? E se essa pedra quente atirada para o rio da circulação atmosférica que chamamos de El Nino pudesse de alguma forma transferir a sua acumulação de calor tropical lá para acima até ao Polo? E se o fluxo da Corrente de Jato no Hemisfério Norte tivesse ficado tão fraca que até mesmo um aquecimento nos trópicos devido a um forte El Nino recorde não pudesse acelerá-lo significativamente (através do aumento do diferencial de calor entre o Equador e o Polo). E se essas novas zonas ondulantes da Corrente do Jato se estendessem até ao Ártico – empurrando o calor tropical para o extremo norte durante eventos El Nino? Em momentos em que o mundo, como um todo, estivesse no seu mais quente? Durante um período em que o calor e a humidade na superfície do Oceano Pacífico estivessem a explorar um novo pico devido a uma combinação de aquecimento forçado pelos humanos e um El Nino atingir o topo do ciclo de variabilidade natural?

E se, de alguma forma, esse pico de calor tropical pudesse fluir desde o Equador até ao Pólo?

O que veríamos, então, seria uma aceleração das perigosas mudanças no Ártico descritas em cima. O que veríamos seria um aliar do sinal de amplificação polar, associado ao aquecimento global, com o topo da escalada quente de variabilidade natural que é o El Nino. E quanto ao Ártico sem inverno que foi o primeiro mês e meio de 2016, foi isso o que parece que acabámos de experienciar.

Os cientistas estão perplexos. Bem, deviam estar. Devíamos estar todos.

Links:

NASA GISS

NOAA

Os Cientistas estão Perplexos pelo que Está a Acontecer no Ártico Neste Momento

Tempestade Quente no Ártico para Descongelar o Polo Norte

Clima do Polo Norte

O Blog do Gelo do Mar Ártico

Impactos da Perda de Gelo do Mar

Earth Nullschool

Jennifer Francis sobre o Impacto do Aquecimento no Árctico Sobre a Corrente de Jato

Traduzido do original No Winter For the Arctic in 2016 — NASA Marks Hottest January Ever Recorded, publicado por Robertscribbler em http://robertscribbler.com/ a 18 de Fevereiro de 2016.

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Gelo do Ártico Continua num Recorde Mínimo para a Época do Ano

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CO2 atmosférico Disparou para 405,6 ppm – Um Nível Não Visto em 15 Milhões de Anos

CO2 atmosférico Disparou para 405,6 ppm – Um Nível Não Visto em 15 Milhões de Anos

Sugerimos a leitura de “Níveis de CO2 atmosférico Dispararam para 405,6 ppm – Um Nível Não Visto em 15 Milhões de Anos” no site Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática
 

Quando os níveis de CO2 bateram um novo recorde mundial de 405,66 ppm ontem, não pude deixar de pensar que HG Wells não poderia ter imaginado um mecanismo mais perigoso para se explorar o passado do mundo.

Pois quando se trata de testar o alcance de novos eventos climáticos extremos, a presente queima massiva de combustíveis fósseis é como entrar numa máquina do tempo sombria. Assim que todo esse carbono atinge os ares e águas, o marcador do clima gira para trás centenas de milhares e milhões de anos. Acelerando-nos em direção às eras de extinção por efeito estufa da história profunda da Terra. Agora, não apenas está a conduzir-nos através de eventos climáticos e temperaturas extremas não vistos em 100, 1.000, 5.000 ou até 10.000 anos, também está a impulsionar-nos em direção a estados climáticos que não ocorreram na Terra há eras e eras.

*****

Desde 1990, o mundo tem experimentado níveis de CO2 na atmosfera num intervalo que não se viu desde a época geológica do Plioceno. Um período de tempo 2.6 a 5.3 milhões de anos atrás com níveis de dióxido de carbono que variam de 350 a 405 partes por milhão e temperaturas médias globais que eram 2 a 3 graus Celsius mais quentes do que os níveis de 1880. Globalmente, o nível do mar elevou-se cerca de 80 pés mais do que aqueles a que humanidade tem se acostumado.

taxa anual de crescimento de co2

(Nunca a Terra tinha visto um acumular de CO2 tão rápido como o produzido pela era humana de energia de combustíveis fósseis. As taxas de aumento de CO2 apenas continuam a aumentar em rampa como nunca enquanto os reservatórios de carbono do mundo parecem estar a encher. Neste contexto, 2015 viu o ritmo mais rápido de aumento de CO2 até agora. As águas superficiais do oceano em aquecimento não podem absorver tanto CO2 quanto os oceanos mais frios. E um oceano quente recorde em 2015 contribuiu para esse acumular extremo de CO2 atmosférico. No ano passado, num todo, o CO2 acumulou na atmosfera a uma taxa de 3,2 partes por milhão por ano. Isso é bem acima do ritmo furioso de 2 partes por milhão de acumulação média anual que ocorreu durante a década de 2000. Fonte da imagem: NOAA ESRL).

Se os níveis de CO2 atmosféricos globais tivessem estabilizado neste ritmo, é provável que tivéssemos, eventualmente, visto climas, temperaturas, e níveis do mar, que se tornavam cada vez mais como aqueles experienciados há 2 a 5 milhões de anos atrás. Um processo que provavelmente teria levado séculos para chegar a um estado climático final muito mais quente. Um em que pouco ou nenhum gelo permaneceu sobre a Gronelândia ou a Antártida Ocidental, e um que incluía um regredir substancial das linhas costeiras.

De 1990 a 2015, esse foi o nosso contexto climático. O novo mundo que esteve progressivamente a estabelecer-se. Um que viria a afirmar-se a menos que os níveis de CO2 atmosféricos fossem de alguma forma reduzidos para menos de 350 partes por milhão. Foi tipo um assunto sério. Infelizmente, poucos especialistas realmente falaram sobre isso.

Saindo do Plioceno

Mas a partir de 2015 e continuando em 2016, a máquina do tempo da queima de combustíveis fosseis, mais uma vez, encaminhou-nos de volta para tempos mais quentes e perigosos. Pois nos últimos dois anos começámos a exceder o limite máximo de CO2 do Plioceno e começámos a entrar nos níveis de CO2 que foram mais típicos daqueles da época climática do Mioceno Médio, de há 15 a 17 milhões de anos atrás.

niveis de co2 mais elevados que no Plioceno

(De foguetão para além do Plioceno. A 4 de Fevereiro de 2016, um nível atmosférico de CO2 recorde de 405,66 foi registado no Observatório de Mauna Loa. A Terra não experienciou níveis de CO2 tão elevados desde há 15 a 17 milhões de anos. Fonte da imagem: NOAA ESRL).

No final de Abril de 2015, enquanto o CO2 se aproximava de seu ponto mais alto típico de maio, as leituras diárias tinham atingido um nível de 404,9 partes por milhão – levando-nos em direcção à fronteira do contexto climático do Plioceno. Durante um breve período de 9 meses, o CO2 recuou dos limites do Plioceno enquanto as plantas da altura da primavera e do verão respiravam no Hemisfério Norte. Contudo, os níveis médios de CO2 atmosférico ainda estavam a aumentar com a queima de combustíveis fósseis desenfreada que continuava por todo o mundo. Ontem, 04 de fevereiro de 2016, os níveis diários de CO2 no Observatório Mauna Loa tinham subido em flecha para 405.66 partes por milhão. Um nível bem fora do limite superior para a época climática do Plioceno. Um nível mais típico dos períodos observados durante o Mioceno, 15 a 17 milhões de anos atrás.

Entrando no Mioceno Médio

Infelizmente, este pico diário em fevereiro de 405.66 partes por milhão não é o fim da subida em flecha para o ano em curso. Os picos atmosféricos típicos ocorrem durante Maio. E este ano, é provável que vejamos níveis atmosféricos chegarem perto de 407 partes por milhão nas médias semanais e mensais ao longo dos próximos meses. Tais níveis empurram-nos solidamente para fora do contexto climático do Plioceno e bem para dentro do contexto do Mioceno.

Embora o Mioceno Médio não tenha sido um clima de extinção por efeito estufa, foi um muito mais estranho à humanidade. Naquela época, apenas os grandes macacos existiam. O nosso ancestral mais antigo, o Australopitecus, ainda estava pelo menos 9 milhões de anos no futuro. É correto dizer que nenhum ser humano, nem mesmo os nossos parentes mais próximos, alguma vez respirou ar com a composição que agora está a entrar nos nossos pulmões. Nunca viveu sob a cúpula opressiva e intensificada de tanto calor atmosférico global forçado.

CO2 atmosférico no Plioceno e Mioceno

(Dissemos adeus ao contexto climático do Holoceno quando os níveis de CO2 subiram acima das 280 partes por milhão, durante o século 19. Por volta de 1990, tinhamos começado a entrar no contexto do Plioceno, um período que ocorreu há 2 a 5 milhões de anos atrás. A partir de 2015, começámos a sair do contexto climático do Plioceno e a entrar no Mioceno Médio. Se os ritmos atuais de queima de combustíveis fósseis ou os ritmos habituais de acumulação de CO2 continuarem, vamos estar a entrar no contexto climático do Oglioceno daqui a cerca de 25 a 50 anos. Fonte da imagem: NOAA ESRL).

Estamos a entrar agora num período em que as atmosferas são mais semelhantes às observadas durante o Óptimo Climático do Mioceno Médio – a última vez que as medidas de CO2 ultrapassaram um limiar de cerca de 405 partes por milhão (veja aqui e aqui).

O Óptimo Climático do Mioceno Médio de há 15 a 17 milhões de anos atrás era um mundo radicalmente diferente. Apresentava uma atmosfera na qual os níveis de dióxido de carbono variavam enormemente de 300 partes por milhão a 500 partes por milhão. As temperaturas eram entre 3 a 5 graus Celsius mais quentes do que no século 19. E os níveis do mar eram cerca de 120 a 190 pés mais elevados. Durante este período, o mundo ainda estava a arrefecer do calor das épocas do Paleoceno e do Eoceno. O carbono estava a ser sequestrado. E foi a primeira vez que o mundo quebrou significativamente o nível estável de CO2 abaixo das 500 partes por milhão que havia sido estabelecido durante o Oligoceno 24 a 33 milhões de anos atrás.

Se os níveis de CO2 permanecerem nesta faixa, são estas as temperaturas, os níveis do mar, e as condições climáticas para as quais vamos transitar e, finalmente, experienciar. Mas o tempo, e a queima de combustíveis fósseis, não estão do nosso lado. Pois com os ritmos de aumento da queima de combustíveis fósseis habituais da sociedade de negócio, podemos vir a atingir o limiar do Oligoceno em tão pouco quanto 25 a 30 anos. E mesmo que as taxas atuais de aumento fossem mantidas, o limiar do Oligoceno esperar-nos-ia a 5 décadas de distância.

Links:

NOAA ESRL (Por favor, apoiem a ciência pública, não baseada em interesses especiais, como o trabalho fantástico e essencial produzido pelos especialistas da NOAA).

A Curva Keeling

Clima do Plioceno

Entrando no Mioceno Médio

Traduzido do original Atmospheric CO2 Rocketed to 405.6 ppm Yesterday — A Level not Seen in 15 Million Years, publicado por Robertscribbler em http://robertscribbler.com/ a 05 de Fevereiro de 2016.

Zika Vírus e a Nova Distopia do Clima – O Efeito de Estufa Humano como Multiplicador de Doenças

Zika Vírus e a Nova Distopia do Clima – O Efeito de Estufa Humano como Multiplicador de Doenças

Sugerimos a leitura de “Zika Vírus e a Nova Distopia do Clima – O Efeito de Estufa Humano como Multiplicador de Doenças” no site Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática
 

A partir de hoje, as autoridades no Brasil, Colômbia, Jamaica, El Salvador e Venezuela, exortavam as mulheres para evitarem ficarem grávidas … É impensável. Ou melhor, é algo saído de uma história de ficção científica, o cerne absoluto de um futuro distópico.

– Bill McKibben, num comunicado recente sobre o aquecimento global e o vírus Zika que é agora uma pandemia.
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Existe uma infinidade de doenças por aí fora. Doenças que não conhecemos. Doenças trancadas em cantos do mundo rarefeitos e distantes. Doenças que operam em ambientes de selva de nichos pequenos. Doenças que vivem em apenas sistemas de cavernas ou numa única espécie. Doenças que foram trancadas há milhões de anos atrás no gelo que descongela agora. Doenças que, se lhes for dado um vetor – ou um meio de viajarem para fora dos seus pequenos nichos orgânicos ou ambientais rarefeitos – podem causar danos incalculáveis em amplas extensões do globo.

Países com transmissão do vírus zika

Os países com transmissão ativa do Zika Vírus reportada. Até recentemente, as crises de Zika estavam isoladas à África Central e Polinésia Francesa. Agora, o vírus é uma pandemia global com as autoridades da Organização Mundial de Saúde preocupada que as infeções possam chegar aos 4 milhões. Fonte da imagem: O CDC.

Tal foi o caso com o outrora humilde vírus Zika. Descoberto em 1947 na África Central, a doença primeiro só existia em macacos. O vírus levou 7 anos para dar o salto para os humanos em 1954. Mas, ao início, os sintomas eram apenas ligeiros e para a maior parte da história da doença era considerado uma forma menos prejudicial do vírus Dengue – ao qual está estreitamente relacionado. O vírus, ao início, aparentava apenas resultar em febre, dores de cabeça, erupção cutânea e dor nas costas – se quaisquer sintomas aparecessem de todo. Iria levar muito mais tempo para os devastadores e terríveis efeitos posteriores, de um vírus que aparentava num primeiro momento ser inofensivo, começarem a aparecer.

Até 2007, quando o vírus começou a crescer até aos seus níveis de pandemia atuais, estava na sua maioria isolado à África Central e a uma região da Polinésia Francesa no Pacífico. Ambas as áreas estão entre as mais calorosas e mais chuvosas do mundo. Ambas caracterizadas por populações muito grandes e persistentes dos tipos de mosquitos mais adequados para a transmissão desta doença agora amplamente temida.

Uma Questão da Extensão Crescente dos Vetores de Doenças

Em linguagem de epidemiologia, um vetor é um transportador da doença. No caso de Zika, o transportador primário é o mosquito. No total, sete espécies da variedade de mosquitos Aedes são conhecidos por transportar Zika.

Em condições climáticas normais, o alcance desses insetos transmissores de doenças tende a permanecer bastante estável. Mas não é esse o caso no mundo atual. Desde 1880, o mundo tem aquecido e as extensões de mosquitos vetores de doença têm-se expandindo. Sob o regime atual de aumento da temperatura de 1°C ao longo dos últimos 136 anos, o Aedes Aegypti – um dos principais transportadores do vírus Zika – expandiu o seu habitat para fora dos trópicos e em latitudes cada vez mais elevadas.

Aedes Aegypti Distribuição Global

Distribuição global do Aedes Aegypti em 2015 – vermelho indica maior frequência, azul indica frequência zero. O Aedes Aegypti é um vetor de doenças para vírus como o Dengue e o Zika. À medida que o mundo aqueceu, o seu habitat tem vindo a expandir-se para Latitudes cada vez mais elevadas. Fonte da imagem: Distribuição do Aedes Aegypti

Mas não só a extensão global desses portadores da doença está em expansão como também há uma persistência nas regiões que eles ocupavam anteriormente. Regiões que poderão ter assistido apenas a uma ou duas semanas por ano nas quais mosquitos fêmea, infectados com Zika, estavam ativos, podem agora experienciar um ou dois meses de exposição. E regiões em que o mosquito estava ativo durante apenas alguns meses poderão agora ver populações ativas transmissoras da doença durante metade do ano ou mais.

É essa duração crescente e expansividade da exposição ao vetor de doença que é um dos impactos epidemiológicos mais perigosos da mudança climática. A alteração climática não apenas possibilita o movimento de doenças provenientes do isolamento anterior em reservatórios remotos. Ela também permite uma amplitude cada vez maior de transporte, já que as áreas em que as espécies portadores de doenças estão adaptadas a viver expandem dramaticamente, tanto em termos de espaço como em termos de tempo de exposição.

É como se tivéssemos decidido carregar triliões de mosquitos com o que equivale a munição viva biológica e, em seguida, lhes déssemos a capacidade de descarregar essa munição letal sobre extensões cada vez mais amplas e mais abrangentes do globo. Isso é basicamente o que se obtém quando se aquece o mundo. Uma expansão e invasão global de doenças até então desconhecidas espalha-se pelo mundo através de vetores como o mosquito.

A Explosão Viral do Zika Ocorre Durante o Ano Mais Quente Já Registado

Voltando ao nosso conto de expansão do vírus Zika desde 2007 até 2016, descobrimos que o Zika durante este espaço de tempo tinha saltado para fora do seu habitat tradicional do século XX e, coincidentemente, expandido com a propagação de mosquitos da variedade Aedes ao longo das bandas de clima em aquecimento e umedecimento. Em 2007, o primeiro salto fora da África Central e Polinésia Francesa ocorreu em Yap – uma parte dos Estados Federados da Micronésia.

O alcance da epidemia, em seguida, expandiu novamente até 2014 para a Ilha de Páscoa, Polinésia mais ampla, as Ilhas Cook, e a Nova Caledónia. A expansão geográfica desta doença ao longo das cadeias de ilhas do Pacífico indica que o aumento da virilidade do Zika desencadeou-se, provavelmente, a partir da estirpe da Polinésia Francesa e não a partir da estirpe em África.

Então, em 2015, coordenado com as temperaturas globais mais quentes já registadas, o vírus Zika pulou para fora dos seus limites ambientais da bacia das ilhas do Pacífico e espalhou-se para o Brasil e Caribe. O vírus, subsequentemente, espalhou-se através de uma ampla secção da América Central e América do Sul. A partir de ontem, avisos de viagens de possível exposição ao vírus Zika estavam incluídos nesta lista de 22 países:

Barbados, Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Colômbia, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Saint Martin, Samoa, Suriname e Venezuela.

Hoje, a Organização Mundial da Saúde estava a emitir avisos de que até 4 milhões de pessoas podem acabar por ser infetadas antes do surto mais recente estar terminado.

O Nova Distopia Climática – Estamos Agora a Dizer às Mulheres para Não Terem Filhos

Como muitas febres virais, o Zika ataca o sistema nervoso das pessoas que infecta. E apesar de os sintomas iniciais poderem parecer leves, com até 80 por cento das pessoas infetadas a mostrarem nenhum sintoma de todo, o vírus pode causar danos graves a longo prazo tanto para bebés não nascidos como para indivíduos vulneráveis. Como as taxas de infecção pelo vírus aumentaram, foram suspeitas de estarem relacionadas instâncias de um tipo de paralisia temporária chamada Síndrome de Guillain Barre e um encolhimento aterrorizante das cabeças de bebés em gestação chamado microcefalia, que também aumentaram [O que é Microcefalia, na Wikipédia].

Microcefalia e vírus Zika

Um aumento nas taxas de microcefalia – um encolhimento trágico das cabeças de crianças não nascidas como resultado de danos virais no sistema nervoso – entre as crianças em regiões de surto do vírus Zika levantou preocupações globais quanto ao impacto contínuo do vírus. Mais particularmente, as mulheres em um número crescente de países estão agora a ser solicitadas a abster-se de terem filhos durante meses ou mesmo anos. Fonte da imagem: O CDC.

Hoje na BBC:

O vírus, que não apresenta sintomas 80% das vezes, é acusado de causar desenvolvimento atrofiado do cérebro em bebés. Cerca de 3.500 casos de microcefalia foram identificados até agora no Brasil. E pessoal médico em Recife, a capital do estado no Nordeste no Brasil, dizem que estão a lutar para lidar com pelo menos 240 casos de microcefalia em crianças.O Secretário de Saúde da cidade, Jailson Correia, um especialista em doenças tropicais, disse à BBC que ele e outros precisam “de lutar duro”.

Estes são impactos profundamente terríveis. Impactos que não foram inicialmente esperados de um vírus que ao início parecia tão inócuo. E é essa ameaça de microcefalia gerada por Zika entre os lactentes que está a impulsionar tudo, desde avisos de viagem para a medida inédita de alguns países solicitarem que as suas populações humanas dêem o passo extremo de evitar a gravidez.

Desde segunda-feira, autoridades no Brasil, Colômbia, Jamaica, El Salvador e Venezuela estavam a exortar as mulheres a não engravidarem. A moratória para a gravidez – que é voluntária – varia em duração de alguns meses a dois anos no caso de El Salvador. E a razão para a moratória solicitada é, infelizmente, prática. As autoridades desses países estão agora forçadas a escolher entre perguntar às mulheres para evitarem a gravidez ou terem os seus sistemas de saúde sobrecarregados por lactentes que sofrem de microcefalia.

Com uma vacina provavelmente a ​​10-12 anos de distância para o vírus Zika, com 4 milhões de casos esperados no foco atual, e com o habitat dos mosquitos Aedes que carregam o vírus a continuar a expandir-se na cauda de um aquecimento global forçado pelos humanos, estamos infelizmente apenas no início desta tragédia. Um evento que, como Bill McKibben observou no The Guardian no início desta semana, saltou totalmente para o reino da distopia.

Um Deslocamento Profundo para a Humanidade

A microcefalia entre crianças é ao mesmo tempo trágica e terrível. O seu impacto atinge o cerne daquilo que significa ser-se um ser humano. Se um vírus, conduzido para regiões distantes pelo aquecimento do mundo através da queima de combustíveis fósseis, é capaz de paralisar os nossos filhos enquanto ainda no útero, a nossa sensação de segurança é abalada enquanto testemunhamos esta brutalidade de partir o coração. É o tipo de coisa tão terrível que não podia vir da imaginação humana. E é por isso que, quando o testemunhamos, experimentamos uma estranha sensação de deslocamento. Um sentimento surreal de que nada está correto. Como o momento depois do carro bater no poste de telefone, o momento em que ainda estás a voar pelo ar, arremessado do veículo. O momento imediatamente antes do impacto inevitável com o pavimento.

Mas o impacto, infelizmente, vem. Não estamos apenas a tornar muitas das espécies deste mundo em órfãos climáticos. Em criaturas sem um espaço seguro para viver e prosperar, também o estamos a fazer a nós mesmos. Pois os filhos de Zika também são órfãos climáticos. As vítimas trágicas de uma variedade crescente de condições ambientais que são perigosas para a vida humana. E o Zika é apenas um exemplo das doenças mortais, condições meteorológicas extremas, elevação do nível do mar, colapso glacial, morte do oceano, e rotura das colheitas que estamos agora a forçar sobre o habitat humano. Um habitat que estamos a tornar menos habitável para nós mesmos e para praticamente tudo o resto.

É isso que significa deslocação terminal – ser forçadamente excluído. Ser-se, de repente, introduzido num ambiente muito hostil em que a sobrevivência, e neste caso a reprodução, é, de repente, um negócio arriscado. Para os seres humanos, este é um deslocamento profundo. Um que faz com que o mundo em que estamos a viver agora pareça por demais estranho. Pois não estamos a viver no mundo que estamos acostumados. E aquele que estamos a fazer é ao mesmo tempo terrível e trágico. E, com toda a honestidade, precisamos desesperadamente de parar com os danos antes de qualquer outra coisa muito grande, ou terrível, ou essencial, se solte.

Links:

O Virus Zika Prenuncia o Nosso Futuro Distópico Climático

Sobre Mudanças Climáticas e Doenças Transmitidas por Vetores

O CDC

O Virus Zika

Zika Vírus Originário de Mosquito Espalha-se Explosivamente

Aedes Aegypti

UCAR: Mudanças Climáticas e Doença Originária em Vetor

Cidade Brasileira Vê um Pico nos Casos de Microcefalia

Fatos sobre Microcefalia

Aquecimento Global Aumenta População de Mosquito em 50 por Cento

Traduzido do original Zika and the New Climate Dystopia — Human Hothouse as Disease Multiplier, publicado por Robertscribbler em http://robertscribbler.com/ a 28 de Janeiro de 2016.

Acordo da COP21 Não Consegue Evitar Alterações Climáticas Devastadoras, Académicos Avisam

Acordo da COP21 Não Consegue Evitar Alterações Climáticas Devastadoras, Académicos Avisam

Sugerimos a leitura de “Acordo de Paris Não Consegue Evitar Alterações Climáticas Devastadoras, Académicos Avisam” no site Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática
 
Acordo da COP21 não evita devastação da mudança climática
Um grave e contundente artigo do The Independent, no qual estou materialmente mencionado: COP21: Acordo de Paris é fraco demais para evitar a mudança climática devastadora, académicos advertem. Começa assim (aqui está uma parte; clique no link para o artigo completo. A nossa carta ao jornal, contudo, encontra-se na íntegra, mais abaixo na página):
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“Os festejos ocos de sucesso no final do Acordo de Paris provaram mais uma vez que as pessoas vão ouvir o que elas querem ouvir e ignorar o resto”.

O Acordo de Paris para travar o aquecimento global tem, na verdade, constituído um grande revés para a luta contra as alterações climáticas, académicos especialistas avisam.

O acordo pode ter sido apregoado por líderes mundiais mas é demasiado fraco para ajudar a impedir o dano devastador para a Terra, alegam.

Numa carta conjunta ao The Independent, alguns dos principais cientistas do clima do mundo lançaram um duro ataque ao acordo, alertando que oferece “falsa esperança”, que poderia, em última instância, provar ser contraproducente na batalha para travar o aquecimento global.

A carta, que carrega onze assinaturas incluindo os professores Peter Wadhams e Stephen Salter, das universidades de Cambridge e Edimburgo, adverte que o Acordo de Paris é perigosamente inadequado.

Por causa do fracasso de Paris, os académicos dizem que a única chance do mundo de se salvar do aquecimento global desenfreado é um impulso gigante em direção a tecnologias de geo-engenharia controversas e amplamente não testadas que procuram esfriar o planeta através da manipulação do sistema climático da Terra. …

“Os festejos ocos de sucesso no final do Acordo de Paris provaram mais uma vez que as pessoas vão ouvir o que eles querem ouvir e ignorar o resto . O que eles desconsideraram foram as falhas mortais que se encontravam logo abaixo do seu verniz de sucesso,” os académicos escreveram na carta, …assinada por … Professor Paul Beckwith, da Universidade de Ottawa, no Canadá.

“O que as pessoas queriam ouvir era que um acordo havia sido alcançado quanto às alterações climáticas que iria salvar o mundo enquanto deixando os estilos de vida e aspirações inalterados. A solução que propõe não é chegar a acordo sobre um mecanismo urgente que garanta cortes imediatos nas emissões, mas chutar a lata pela estrada abaixo.”

… Mas eles dizem que as ações acordadas são demasiado fracas para se chegar nem próximo desse alvo. Além disso, os compromissos que os países fizeram para cortarem nas suas emissões de carbono não são suficientemente vinculativos para garantir que sejam cumpridos, enquanto que o Acordo de Paris não vai forçá-los a se “ajustarem” tão frequentemente quanto for necessário.

Mais preocupante ainda, dizem eles, é a falta de ação dramática imediata que se acordou para combater o aquecimento global. O Acordo de Paris só entra em vigor em 2020 – ponto no qual enormes quantidades de CO2 adicional terão sido bombeadas para a atmosfera. Os signatários afirmam que isto torna quase impossível limitar o aquecimento global a 2C, muito menos 1.5C.

“O coração do Acordo de Paris estava no lugar certo, mas o conteúdo é pior do que inepto. Foi um verdadeiro triunfo para a diplomacia internacional e envia uma forte mensagem de que os céticos perderam o caso e que a ciência está correta quanto às alterações climáticas. O resto é pouco mais do que paródia e arrisca limitar-se ao fracasso “, disse o professor Kevin Anderson, da Universidade de Manchester, que não assinou a carta mas concorda com o seu argumento.

Peter Wadhams, professor de física do oceano na Universidade de Cambridge e um dos signatários da carta, disse que as perspectivas para conter o aquecimento global consequentes ao Acordo de Paris, são agora tão calamitosas que ele defende uma investida em geo-engenharia – o que não é algo que ele recomenda de ânimo leve. “Pesando com tudo o mais, não sou um grande fã de geo-engenharia, mas acho absolutamente necessário, dada a situação em que estamos. É um adesivo pestilento, como solução. Mas você precisa dela porque, olhando para o mundo, ninguém está a mudar instantaneamente o seu padrão de vida”, disse o professor Wadhams.

Bombear grandes quantidades de água pulverizada para as nuvens para torná-las maiores e mais brilhantes para que reflitam a luz solar de volta para a atmosfera – conhecida como Abrilhantamento da Nuvem Marinha – oferece a melhor perspectiva de geo-engenharia, disse ele.

Tecnologias de geo-engenharia – que também consideram colocar espelhos gigantes no espaço ou o branqueamento da superfície do oceano para desviar a radiação solar de volta para o espaço – são controversos por causa dos receios de que sejam tecnicamente exigentes, seriam extremamente caros, para além de que interferir com o sistema climático poderia ter consequências inesperadas prejudiciais para o planeta.

A carta

Os festejos ocos de sucesso no final do Acordo de Paris provaram mais uma vez que as pessoas vão ouvir o que eles querem ouvir e ignorar o resto. O que as pessoas queriam ouvir era que um acordo havia sido alcançado quanto às alterações climáticas que iria salvar o mundo, deixando os estilos de vida e aspirações inalterados.

O que eles desconsideraram foram as falhas mortais que se encontram mesmo por abaixo do seu verniz de sucesso. Logo na terceira página do projecto de acordo está o reconhecimento de que a sua meta de CO2 não vai manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 graus Celsius, o nível que já havia sido definido como o limite seguro crítico. A solução que se propõe não é chegar a acordo quanto a um mecanismo de urgência que garanta cortes imediatos nas emissões, mas chutar a lata pela estrada abaixo, ao comprometerem-se a calcular um novo orçamento de carbono para um aumento da temperatura de 1,5 graus, que poderá ser falado em 2020.

Dado que não podemos concordar quanto aos modelos climáticos ou o orçamento de CO2 para manter o aumento da temperatura a 2°C, então somos ingénuos ao pensar que vamos concordar quanto a uma meta muito mais difícil em cinco anos, quando, com toda a probabilidade, o aumento exponencialmente dos níveis atmosféricos de CO2 dizem-nos que vai ser tarde demais.

Mais preocupante, essas metas inadequadas exigem que a humanidade faça muito mais do que cortar nas emissões com um programa de tecnologia renovável glorioso que ultrapassará qualquer outro esforço humano do passado. Elas também requerem que o carbono seja sugado do ar. O método preferido é eliminar a indústria de combustíveis fósseis pela competição através do fornecimento de biomassa às centrais térmicas. Isso envolve um crescimento rápido das árvores e plantas, mais rápido do que a natureza alguma fez em solo que não temos, depois queimá-la em estações de energia que irão capturar e comprimir o CO2 usando uma infra-estrutura que não temos e com tecnologia que não irá funcionar na escala que precisamos e, finalmente, armazená-lo em lugares que não podemos encontrar. Para se manter a agenda com boas notícias, tudo isto foi omitido do acordo.

O rugido das tempestades globais devastadoras já afogou os falsos festejos de Paris e colocou brutalmente em foco a extensão da nossa incapacidade para lidar com a mudança climática. A triste verdade é que as coisas vão ficar muito piores. O excesso de calor do planeta está agora a derreter a capa de gelo do Ártico como uma faca quente na manteiga e está a fazê-lo a meio do Inverno. A menos que seja travado, este aquecimento do Ártico vai levar a uma rápida libertação dos hidratos de metano do fundo do mar do Ártico e anunciar a próxima fase de mudança climática catastrófica intensa à qual a nossa civilização não vai sobreviver.

O tempo para a opinião esperançosa e otimismo cego que tem caracterizado o debate sobre as alterações climáticas acabou. O tempo para factos duros e decisões é agora. As nossas costas estão contra a parede e agora temos que iniciar o processo de preparação para geo-engenharia. Temos que fazer isso no conhecimento de que as suas chances de sucesso são pequenas e os riscos de implementação são grandes.

Temos de olhar para o espectro completo de geoengenharia. Isto irá cobrir iniciativas que aumentem o sequestro de carbono por restauração de florestas tropicais até à fertilização dos oceanos. Irá estender-se a técnicas de gestão de radiação solar, como o branqueamento artificial de nuvens e, in extremis, replicar os aerossóis de atividade vulcânica. Vai ter que ter em conta para quais áreas nos focamos seletivamente, como as regiões do Ártico que emitem metano, e quais áreas devemos evitar.

Os elevados riscos políticos e ambientais associados a isto têm que ser esclarecidos para que nunca seja usado como alternativa a fazer-se os cortes de carbono que são urgentemente necessários. O reconhecimento destes riscos deve ser usado ​​para desafiar a narrativa de opinião esperançosa que infestou as conversações sobre as alterações climáticas ao longo dos últimos vinte e um anos, e que atingiu o seu apogeu com o acordo COP21. No vácuo internacional presente quanto a esta questão, é imperativo que o nosso governo toma uma iniciativa.

Assinado por

Professor Paul Beckwith, Universidade de Ottawa
Professor Stephen Salter – Universidade de Edimburgo
Professor Peter Wadhams – Universidade de Cambridge
Professor James Kennett, da Universidade da Califórnia.
Dr Hugh Hunt – Universidade de Cambridge
Dr. Alan Gadian – Cientista Sénior, Centro da Nação para as Ciências Atmosféricas da Universidade de Leeds
Dr. Mayer Hillman – Membro Sénior Emérito do Instituto de Estudos Políticos
Dr. John Latham – Universidade de Manchester
Aubrey Meyer – Diretor, Global Commons Institute.
John Nissen – Presidente do Grupo de Emergência para o Metano no Ártico
Kevin Lister – Autor de “O Vortex da Violência e por que estamos a perder a guerra contra as alterações climáticas

Traduzido do original COP21 Deal Cannot Prevent Devastating Climate Change, Academics warn, publicado por Paul Beckwith em http://paulbeckwith.net/.

Outros blogues com publicações recentes sobre Alterações Climáticas em Português:

Como a Mudança Climática Pode Conectar a Humanidade

em http://focoempatico.net

Gelo do Mar do Ártico no Recorde Mais Baixo para Janeiro

em https://alteracoesclimaticas…


Que se passa na ciência climática, enquanto os outros olham para a COP21 Paris?

Que se passa na ciência climática, enquanto os outros olham para a COP21 Paris?

Alterações climáticas enquanto decorre a COP21 Paris

Se quisermos ter uma visão mesmo completa da ciência, da política e do conhecimento cultural influenciado pelos média, no que diz respeito ao Aquecimento Global, temos que incluir também as fontes que estão a ser ignoradas pelo status quo por se desviarem muito dos seus interesses. Vou resumir algumas fontes, para que vocês possam ficar com uma visão bem clara daquilo que se passa em diversas frentes, quando estamos a meio da conferência do clima de Paris.

Começando por aquilo que já toda a gente sabe, ou está exposta, em direcção ao que muito pouca gente sabe. Quando se abre uma janela privada no nosso browser, para pesquisarmos por “Alterações Climáticas” no Google sem quaisquer influências do nosso historial na Internet sobre os resultados, é isto que encontramos: websites governamentais, como a Agência Portuguesa do Ambiente, a Agência Europeia do Ambiente, e a WWF (que além de ser internacional, é uma ONG conhecida ultimamente pela quantidade de dinheiro que recebe e as suas ligações às elites Monárquicas) com uma ciência básica das alterações climáticas, os objetivos de mitigação até 2050 para se evitar chegar aos 2℃ (limite máximo sugerido de variação da temperatura média do planeta desde a revolução industrial para que a humanidade não entre numa calamidade), e as suas consequências nefastas lá por volta de 2100. Também se encontra a página da Wikipédia sobre Alterações Climáticas (climate change), que apenas fala em gases de efeito de estufa no último parágrafo. No topo dessa página da wikipédia encontra-se um link para a página Aquecimento Global. Essa sim pode ser considerada uma fonte aceitável para se compreender, de forma geral, o que são alterações climáticas e em que situação estamos. Mesmo assim, incompleta. Se não estivesse incompleta, não me daria ao trabalho de escrever mais nesta publicação para além de vos indicar esse link. Mas como há mais, e muda bem a figura das coisas, aqui vai.

A GreenPeace está a lançar campanhas para “escreverem” (já está escrita, é só preencherem os seus dados – inscreverem-se – e clicar “send message”) cartas ao Presidente Obama a exigir-lhe que proteja o Ártico de futuras explorações de petróleo. Como se impedir que se perfurasse o Ártico por petróleo fosse impedir que o gelo derretesse todo pela primeira vez no ano seguinte ou no máximo até 2020. Como se o nosso congelador estivesse desligado e a derreter, para sempre, e se fizesse uma campanha para proteger os bifes de serem comidos já ao jantar, como se isso fosse “salvar” a casa da fome prolongada que está para vir. Como a GreenPeace, encontramos outras ONGs com focos similares ou que ignoram completamente a parede contra a qual a humanidade acelera. Save the Arctic aproveita e segue a febre da Marcha pelo Clima, mas quando se vê o foco do seu activismo, parece que ainda estão a tentar salvar o urso polar; completamente alienados de que o gelo no Ártico vai desaparecer em breve e independentemente daquilo que se faça, ou simplesmente percebendo que não se consegue continuar a angariar fundos enfrentando essa realidade? Não sei, mas de modo similar, a Ocean Conservancy parece não estar nem aí para a acidificação dos oceanos que está em vias de tornar alguns oceanos inóspitos à vida de organismos essenciais na cadeia alimentar, já em 2030.

Será que aquelas iniciativas ativistas diretamente focadas nas alterações climáticas estão a ter um foco mais relevante? A Climate Reality celebra que o estado de Alberta, no Canadá, capital da extração de petróleo das areias betuminosas, ‘planeia‘ impor uma taxa de carbono. Planeia! Taxa de carbono! para os milionários pagarem para continuarem a levar a humanidade em direção à extinção?! Num país que proibiu os cientistas de falarem com os média sobre alterações climáticas! O que é que estas iniciativas ativistas estão a celebrar? Será que o papel delas é relevante? Talvez, sim, seja relevante para nos distrair e perpetuar esta cultura, ao publicar sobre ela mas sem mudanças significativas culturais e no modo de pensar.

Climate Progress, uma das mais conceituadas fontes de notícias sobre alterações climáticas, publica: “Prova científica de que a Exxon e os Kochs (ricaços dos combustíveis fósseis) distorceram o entendimento público sobre alterações climáticas“. E depois?! Fazer queixinhas e apontar quem tem a culpa tem o mesmo peso que publicar sobre a ciência, as soluções e a urgência em aplicá-las? Ou este outro exemplo de publicação: “Companhias de Fracking (exploração de gás natural) estão cada vez piores no revelar das substâncias que usam.” Noam Chomsky explica muito bem o impacto que este tipo de notícias tem em nós: mantém um debate muito vivo, mas dentro de certos limites de debate. Ou seja, torna-se mais uma distração que uma informação, já que o fracking, com ou sem substâncias perigosas para o ambiente e a saúde, trata de captar um combustível fóssil, com emissões de CO2. Daaah! E esta “Metano tem estado a derramar deste local de gás natural durante um mês“. Eles ignoram propositadamente a informação científica regular sobre as gigatoneladas de Metano existentes no fundo do Mar da Sibéria, no Oceano Ártico, que se liberta diariamente com o aumento da temperatura do mar e em quantidades cada vez maiores… como sendo a tal ciência do cenário negro radical… para publicarem isto?! Bem, vamos passar à política; se bem que isto até agora parecia-se mais com política que ativismo.

Será que o Obama, e os restantes presidentes de países influentes, estão mesmo dedicados a combater as alterações climáticas? A única ONG que parece estar um pouco mais próxima da realidade e do foco necessário, mas ainda assim a ignorar alguma ciência climática por ser “radical” demais, é a 350.org (assim chamada por outrora lutar por manter os níveis de dióxido de carbono atmosférico abaixo do valor crítico de 350ppm; alguns anos depois, exatamente este fim de semana, foi o último momento em que a humanidade verá valores de CO2 atmosférico abaixo de 400ppm) que me mostra o primeiro sinal de esperança de entre todas as notícias até agora, com esta publicação e citação da Naomi Klein “E se, ao invés de ser empurrada para o lado em nome da guerra, a acção climática tomasse o centro do palco como a melhor esperança do planeta para a paz?”. Como sabemos, os lideres mundiais mais influentes estão todos focados em guerra, a indústria que mais dinheiro envolve e que queima combustíveis fósseis todos os dias, com vista ao controlo dos combustíveis fósseis mundiais. Não. O teatro deles de preocupação com alterações climáticas é apenas aquele que é suficiente para manter a opinião geral do público do seu lado, enquanto continuam com as suas agendas de domínio mundial. Vamos a números?

Segundo o site da Union of Concerned Scientists [União de Cientistas Preocupados], os países com maiores emissões de CO2 são: #1 China, #2 Estados Unidos, #3 Rússia, #4 Índia, #5 Japão. O primeiro país europeu vem em #6, Alemanha, mas se juntarmos a Europa como um bolo só, passamos logo para terceiros com mais emissões de gases de efeito de estufa. Mas estes países têm números muito diferentes de seres humanos lá a viver. Se virmos per capita, ou seja, por cada ser humano que lá vive, os valores são bem diferentes. Aí, os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Arábia Saudita emitem (consomem e poluem) cada um deles, mais do dobro de qualquer um dos outros países, excepto da Rússia, que fica a dois terços das emissões desses países mais poluentes.

O que é que estes países estão a fazer para reduzir as emissões de CO2 e combater o aquecimento global ao procurar mitigar o seu impacto nas alterações climáticas? O que é que os Estados Unidos estão a fazer?

O maior senhor da guerra de todos os tempos, também presidente do segundo país com maiores emissões de CO2 do mundo, apesar de não estar nem perto de ser o país com mais população, Obama, faz o seu papel de político: conseguir que 200 nações estejam de acordo não será fácil, mas estou confiante”…” acho, de facto, que vamos resolver isto.

O Bill Gates, o homem mais rico do mundo, criou um fundo de 2 mil milhões de dólares para pesquisa e desenvolvimento de energia renovável. Quando a sua riqueza é de +70 mil milhões porque é que aplica apenas 2 mil milhões e não o faz na instalação de energias renováveis mas apenas na pesquisa?

Esperem. Eu ia já todo acelerado percorrer um a um o que os países com maiores taxas de emissões de CO2 estão a fazer, e o que estão a dizer os seus presidentes e pessoas mais influentes, mas, não é esse o melhor modelo de análise para se perceber o que se passa. Este artigo, do qual traduzo alguns parágrafos, pegou no assunto com um modelo e resumo bem mais representativo da realidade humana neste planeta.

Porque é que as Conversações de Paris Estão Condenadas a Falhar, como Todas as Outras.

Mesmo que o mundo celebre um acordo climático a 11 de dezembro, o processo vai ter que ser visto como um falhanço. Deixem-me explicar porquê.

A razão de base é que uma distribuição desigual de emissões de carbono nem está na agenda. A responsabilidade histórica do Ocidente não está na mesa, nem está o método de responsabilidade que olha para as emissões que um país consome em vez das emissões que produz. Ao invés, o que está na mesa são uma extensão de alguns mecanismos e outros novos que permitirão aos países ricos do ocidente terceirizarem os seus cortes nas emissões de modo a pintarem-se de verde.

Quando os dados são incluídos, 2015 é provavelmente o ano mais quente dos registos e acabámos de chegar a um aumento de 1℃ de temperatura desde a revolução industrial,meio caminho para os 2℃ amplamente acordados como sendo o limite de aquecimento global máximo seguro. É a subida de temperatura de superfície mais rápida do registo geológico conhecido no mundo. Estamos a entrar em “território não mapeado”.

Os perigos do aquecimento global têm sido conhecidos – até pelos executivos de companhias petrolíferas – desde pelo menos o início dos anos 80. Contudo, apesar dos 25 anos de conversas climáticas lideradas pela ONU, o mundo está a queimar mais combustíveis fósseis que nunca.

Isto não é simplesmente da culpa das grandes economias emergentes como a China, Índia ou Brasil. Em vez disso, aquilo com que estamos a lidar é o fracasso fundamental do capitalismo neoliberal, o sistema económico dominante no mundo, a confrontar a sua fome por crescimento exponencial o qual apenas é possível pela sua densidade energética excecional por combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.”

Mas no meio disto tudo, há um indivíduo, no mínimo interessante, no foco da economia climática e que vale a pena partilhar. Já conhecem o Jeremy Rifkin? Conselheiro para a economia da chanceler alemã e chamado pelo governo chinês assim que souberam do seu famoso best-seller “A Terceira Revolução Industrial”, tem uma apresentação muito recente no youtube que é verdadeiramente elucidativa e inspiradora. Só vendo. Pena que não está legendada em Português. Têm aqui uma entrevista ao Jeremy Rifkin, esta sim em Português que vos dará uma bom início para conhecê-lo e perceber porque é uma figura de referência (ou que pelo menos devia ser) no tópico das alterações climáticas.

Mais recente ainda: Quão fácil é revertermos todas as nossas fontes energéticas para renováveis? Um estudo por Jacobsson, publicado esta semana, desenhou um mapa com o percurso economicamente e tecnologicamente viável para todos os países numa transição global urgente para 100% energias renováveis até 2050. O aquecimento global seria fácil de resolver, não fosse a política e o sistema económico distorcido da realidade.

E é isso o que nos resta para completar esta publicação: A ciência climática. Esta é a parte mais interessante. Sem rodeios nem distorções políticas, opiniões ou debates, apenas ciência, o que é que se passa? A fonte de informação mais clara e completa de âmbito científico não se encontra em sites institucionais governamentais, internacionais, universitários ou de ONGs. As melhores fontes que encontrei são, interessantemente, blogues de cientistas ou grupos de cientistas que estão a ser ignorados pelo status quo e cultura vigente, que se tornaram “activistas online” de modo a partilharem os estudos e a explicação da ciência climática que melhor descrevem a urgência da situação. A ciência climática nunca foi tão interessante como quando descobri estes blogues.

Sam Carana é certamente quem nos traz as melhores explicações da ciência climática, no blogue Notícias do Ártico [Arctic News], e também a figura mais enigmática. Porquê? Porque ninguém ainda viu a sua cara. Mas o grupo de cientistas que se acredita estarem por detrás daquele avatar, e que podem ser encontrados e também publicam no blogue onde Sam Carana publica, são famosos e respeitados na ciência climática no seu trabalho. Alguns artigos de Sam Carana e não só encontram-se traduzidos no blogue Alterações Climáticas, em Português. A mais recente publicação no Arctic News foi feita por Abert Kalio e é sobre o recorde mais baixo para esta altura do ano tanto da área como da espessura do gelo do mar do Ártico, onde as temperaturas apresentam anomalias de +20℃ que aquilo que deveria ser a temperatura encontrada naquela zona do globo para este mês.

Robertscribbler é outro blogueiro incansável na partilha da mais recente ciência climática. Os eventos naturais resultantes das alterações climáticas, as implicações para a humanidade e a urgência da resposta desta a esses eventos é suportada com os mais recentes estudos, imagens de satélite, gráficos e o que mais, o que torna esta fonte outra das mais interessantes para quem quer compreender a ciência climática desde o todo planetário até à sua relação com os eventos locais. No seu mais recente artigo, “Conferência do Clima de Paris ‘Nos Limites do Suicídio’, os comprometimentos [para resolver a crise climática] não estão nem próximos de evitarem chegarmos aos +2℃.” diz o seguinte: “O problema, tal como se apresenta, é o grande fracasso em comunicar a presente severidade da crise de aquecimento atmosférico global. Parte deste fracasso envolve a incapacidade ou falta de vontade em traduzir as descobertas sobre a corrente sensibilidade climática do sistema terrestre numa linguagem relevante para a presente política global, e em seguida reportá-la amplamente. Se os média mainstream estivessem em cima da bola, eles estariam a reportar as descobertas do relatório anual da UNEP, Emissions Gap Report. Estariam também a prestar mais atenção aos discursos recentes do Dr. Kevin Anderson que endereçaram esta questão crítica.”

Uma das figuras mais famosas para aqueles que pesquisam e vasculham a ciência climática minimamente, é Guy McPherson. Ele é talvez a figura mais controversa das Alterações Climáticas, ainda mais ignorado que os negadores do clima, (ou negadores do aquecimento global, seja lá como os quisermos chamar). Porquê? Porque este professor Emeritus da Universidade do Arizona, abandonou a carreira para se dedicar a palestrar e dar entrevistas sobre como a ciência climática aponta para que a humanidade já não se veja livre de ser extinta em breve neste planeta. Quão breve? Por volta de 2040. Que querem que vos diga…? Não deixa de ser uma previsão futura, mas… mesmo ignorando a evidência diária da temperatura e das emissões de CO2, que em vez de serem reduzidas continuam a aumentar, por países que gastam mais em defesa – ou guerra, para sermos francos – do que em se juntarem para corrigirem este problema da família humana, de uma tal simplicidade tecnológica para uma espécie que leva naves a plutão… olhem para a ciência climática que Guy McPherson referencia para apoiar a sua previsão, antes de mais nada. Eu olhei. Crenças e bolas de cristal à parte, não é preciso ser bruxo para perceber que vamos nessa direção. E a ciência climática é super interessante. A vida fixou carbono ao longo de imensos anos. E nós agora libertámos mais carbono na atmosfera do que os registos geológicos planetários indicam alguma vez ter acontecido na Terra. E chega a um ponto que o planeta faz isso por nós, nem precisamos continuar a queimar combustíveis fósseis nem criar gado. O CO2 já não vem só do petróleo e carvão mas vem dos fogos florestais e do descongelar da Permafrost, e o metano já não vem da digestão das vacas mas sim do fundo do mar do Ártico quando aquece. Guy McPherson tem uma atualização regular do que se passa no tópico das Mudanças Climáticas, e já tem pelo menos um vídeo de uma entrevista pela RT News também legendada em Português, intitulada no youtube como “Cientistas prevêem extinção da humanidade até 2040” e uma palestra intitulada “Aquecimento Global e Extinção da Espécie Humana“.

O que anda este homem a fazer? Apenas a assustar o mundo com maluqueiras do fim do mundo? Não propriamente. Ele apenas cita outros cientistas que também estão a ser ignorados. Por exemplo, o que é que Guy McPherson adicionou esta semana na sua atualização regular do ensaio sobre alterações climáticas? “A análise de Wasdell de Setembro 2015 inclui várias conclusões merecedoras de nota: (1) ‘Estimativas computacionais correntes da sensibilidade do clima revelam-se perigosamente subestimadas’ revelando (2) ‘uma amplificação em oito vezes do forçamento por CO2 (em contraste com a amplificação 3 vezes maior prevista pelos modelos climáticos computacionais do IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas)’, (3) ‘o limite de temperatura alvo de 2°C decidido é muito elevado’ (enfase no original), e (4) ‘as alterações antropogénicas estão a acontecer pelo menos 100 vezes mais rápido do que em qualquer altura do registo paleontológico’ O ponto final do relatório: ‘Não há excedente de carbono a consumir. Já foi massivamente gastoem demasia, mesmo para o objetivo dos 2°C.” Ou: “O Oceano do Hemisfério Sul está a acidificar a uma tal taxa devido ao aumento das emissões de dióxido de carbono que amplas regiões poderão tornar-se inóspitas para a sobrevivência de organismos chave na cadeia alimentar, tão cedo como 2030, segundo um estudo de 2 de Novembro de 2015 na edição online de Nature Climate Change.”

Se depois disto ainda estão a ler, e consideram dar uma chance e espreitar a ciência, poderão certamente achar tão interessante e intrigante como a colaboração entre a equipa sueca e a equipa russa, liderada por Natalia Shakhova, que percorreu o mar do Ártico e observou e registou, “no terreno”, a libertação dos clatratos de metano do fundo do mar, foi simplesmente ignorada pela Royal Society e criticada pelo diretor do projeto NASA Goddard, que deram preferência à apresentação dos modelos climáticos por computador da NASA, ou seja, teóricos, e que não incluíam a libertação dos hidratos de metano nos seus modelos.

Não fica por aí o “bando de cientistas maluquinhos”. O especialista em paleontologia do clima Paul Beckwith é incansável na publicação de actualizações sobre as alterações climáticas, fazendo até vídeos com gatos no youtube para chamar a nossa atenção. Uma curta atualização da situação climática por Paul Beckwith pode ser encontrada traduzida para Português. Paul Beckwith filmou e publicou recentemente a intervenção de James Hansen no COP21 Paris “Injustiça Climática e Desonestidade Governamental”.

O Professor Peter Wadhams, de Física dos Oceanos da Universidade de Cambridge, perito em gelo do Ártico e a destabilização do metano e permafrost, que dada a sua idade e estatuto não tem nada a temer, é outro cientista traduzido para Português que aconselho a ver. O Artic Methane Emergency Group, ou grupo de emergência para o metano no Ártico, liderado por Peter Wadhams, publicou recentemente um artigo do Dailymail.co.uk: “Colinas enormes de metano encontradas no fundo do mar Ártico: Pingos subaquáticos podem revelar pistas preocupantes sobre alterações climáticas.” Resumindo a publicação, estes pingos vão até 1000 metros de largura e 10 metros de altura; formam-se ao longo do leito do mar no mar South Kara ao pé da Sibéria; especialistas acreditam que resultam do derretimento da permafrost; estes “pingos” podem colocar um perigo se rebentarem, libertando quantidades enormes de gás.”

Outro cientista muito activo no ativismo online é Jasson Box, da Dinamarca, perito no gelo da Gronelândia. Infelizmente, não encontrei nada dele traduzido para português.

Uma pesquisa no Google em Português, e mesmo em Inglês, revela bem porquê a humanidade ainda não só não resolveu este problema – mesmo após mais de 20 anos de James Hansen ter alertado os média do “ponto de não retorno” e ter sido proibido de falar com jornalistas pela NASA e a Casa Branca – como até se enterrou ainda mais. Não há nada que se encontre na pesquisa por termos comuns no Google ou no Youtube que possa mudar esta cultura retrógrada e ecocida. Ao invés, apenas se encontra informação institucional, tímida, obediente, que perpetua o status quo. É um desafio muito interessante procurar mudar esta cultura humana, este movimento em direção ao ecocídio.

Fica aqui a proposta de se organizar uma colaboração voluntária de traduções e publicações online em Português sobre a ciência da Mudança climática e as soluções e iniciativas que podem mudar a cultura geral se forem partilhadas e se tornarem do conhecimento geral. Basta comentar a esta publicação, quem estiver interessado.

Grato por terem lido até ao fim,
Que vivam a cada momento, com toda a gratidão e compaixão de quem enriquece a vida uns aos outros.

A Conspiração das Vacas: O Segredo da Sustentabilidade

A Conspiração das Vacas: O Segredo da Sustentabilidade

Sugerimos a leitura de “A Conspiração das Vacas: O Segredo da Sustentabilidade” no site Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática
 
Veja aqui o documentário que as grandes organizações ambientais não querem que vejam. No fundo desta publicação, já legendado em português encontram o documentário Cowspiracy: The Sustainability Secret, documentário ambiental inovador que segue o intrépido cineasta Kip Andersen há medida que ele revela a indústria mais destrutiva que o planeta enfrenta hoje – Kip Andersen, a determinada altura, encontra-se num dilema pois este documentário pode custar-lhe a vida. Exactamente, isso é o quão alto é o jogo das organizações ambientais milionárias e que estão com muito medo de falar sobre o assunto. Há uma indústria bilionária que as financia: a produção animal (pecuária).

Cowspiracy: The Sustainability Secret é um documentário ambiental inovador onde Kip Andersen descobre estar em risco de vida quando investiga porque as organizações ambientais como a Sierra Club ou a Greenpeace não querem falar sobre a pecuária (agricultura ou produção animal) ser a principal causa de aquecimento global, desflorestação, crise de água, acidificação do oceano, emissões de gases estufa e muitos outros.

A verdade é que a agropecuária é a principal causa do desmatamento, e logo também a seca, consumo e crise da água e poluição, é responsável por mais gases de efeito estufa do que todo o setor de transporte, e é o principal motor da destruição da floresta, extinção de espécies, perda de habitat, erosão do solo, “zonas mortas” nos oceanos, e praticamente todos os outros problemas ambientais como o gravíssimo aquecimento global fugidio e restantes alterações climáticas. No entanto ela continua, quase inteiramente, sem contestação. Á medida que Andersen confronta os líderes do movimento ambiental, ele descobre cada vez mais o que parece ser uma recusa intencional de discutir a questão da agricultura animal (ou produção animal), enquanto denunciantes da indústria e “cães de guarda” o alertam dos riscos para a sua liberdade e até mesmo para a sua vida se ele se atrever a persistir.
Tão revelador como «Blackfish» e tão inspirador como «Uma Verdade Inconveniente», este documentário chocante e humorístico revela o impacto ambiental absolutamente devastador que a pecuária tem sobre o nosso planeta, e oferece um caminho para a sustentabilidade global para uma população crescente.

O texto acima é uma tradução não integral do site original http://www.cowspiracy.com/ mas retirado e adaptado de outro website inspirador: http://www.mddvtm.org e recomendado neste outro site que também promete ser uma fonte regular de bons conteúdos: http://focoempatico.net/
Vejam! Vai ser elucidativo e transformador. Deixem de lado a moral e os sentimentos de culpa, mas antes com um espírito de curiosidade e descoberta, é caso para se dizer “Se comes carne, não digas que és um ambientalista”.

Os Céticos do Metano e da Extinção: O Novo Desafio Das Alterações Climáticas

Os Céticos do Metano e da Extinção: O Novo Desafio Das Alterações Climáticas


Os novos céticos na ciência climática estão em negação na questão do metano e da extinção. Como podemos ultrapassar a negação. Já foi um desafio ultrapassar a campanha de negação do aquecimento global; as pessoas não querem ouvir sobre extinção no nosso tempo de vida… E quanto aos governos? Não se pode fazer negócio e promover uma economia baseada no consumo e a guerra quando a possibilidade de extinção está nas noticiário. Como vamos dar a volta a esta? O gelo do Ártico está a derreter e vai desaparecer completamente em entre 1 a 3 anos. As emissões de CO2 estão a aumentar em vez de diminuir. O Aquecimento Global tem um “Fugidío” anexado agora. Como vamos apanhá-lo?

Uma compilação com algumas das referências mais interessantes na ciência e Internet:
Peter Sinclair, Greenmanstudios; David Wasdell, Appolo-Gaia Project; Prof. Kevin Schaefer; Professor Martyn Poliakoff – Periodic Videos; James Hansen; Supreme Master Ching Hai; Peter Ward; Jason Box; Dra. Natalia Shakhova; Dr. Igor Semiletov; Thom Hartmann, entre outros…

Segue em baixo a transcrição do vídeo traduzida para português:

Quando a realidade parece muito difícil de enfrentar, batemos em retirada com mecanismos de defesa. Havia a garota que sempre explicava que ela na realidade não queria algo após ela descobrir que não poderia obtê-lo. Ela era de duas caras. O seu mecanismo de defesa era a racionalização. Ele viu a doença como uma saída. Uma saída para trás, é verdade, mas uma saída. Quando era hora de trazer a madeira, as pernas doíam-lhe. Quando a neve caiu algo se passou com o seu braço. E ele adorava a atenção que recebia. Seu mecanismo de fuga foi o fingimento. O Exército chama-lhe “gold-bricking”. Ele se identificou com um campeão de pesos pesados. Cada luta que o campeão venceu, ele venceu. Cada soco que o campeão levou, ele levou. E ele aguentava-se. O seu mecanismo de fuga foi a identificação com outra pessoa. Ela pensou que se fizesse de conta que uma coisa não estava lá, poderia desaparecer. Se você fingisse que algo não tivesse acontecido, talvez não tivesse. Se você escondesse a verdade, talvez viesse a revelar-se sendo uma mentira. O seu mecanismo de fuga era a supressão. Você experiencia mecanismos de defesa enquanto assiste o vídeo seguinte? Vamos contar em decrescente desde cinco. Em que número eles aparecem?

Este pedaço de gelo pode parecer muito banal à primeira vista, mas, acenda-lhe um fósforo e algo surpreendente acontece. Conforme relatado na edição de ‘The Atlantic’ deste mês, chama-se “hidrato de metano”, e, na verdade, não é incomum de todo. De fato, existem mais de 100,000 triliões de pés cúbicos daquilo na Terra. Em termos de volume, que é como o tamanho do mar Mediterrâneo, e tem uma capacidade de energia maior do que todo o carvão, petróleo e gás natural na Terra combinados. E enquanto o metano queima limpinho, o metano não queimado é um potente gás de efeito estufa, e se escapa pode ser devastador para o meio ambiente.

[Peter Sinclair, Greenman Studios] Você talvez se lembre que em 2007 houve um grande estudo que saiu deste grupo chamado Painel Intergovernamental para a Mudança Climática e eles olharam para modelos de computador de quão rapidamente o gelo do Ártico iria desaparecer, e no início de 2007, isto é o que eles nos estavam a dizer. Que iríamos ver uma queda gradual no mínimo de gelo do Ártico, descendo provavelmente para onde ainda teríamos uma boa quantidade de gelo restante no ano de 2100, no pior caso, talvez em 2070 veríamos águas abertas … ..no Ártico durante o Verão. Naquele mesmo ano, vimos nas observações reais, uma enorme queda no gelo do Ártico, e essa queda continuou de modo que, em 2012, isto é agora onde estamos.

[David Wasdell, Apollo Gaia Project] Quanto mais rápido aquece, mais vapor de água. Quanto mais vapor de água, mais rápido aquece. Quanto mais rápido aquece, menos gelo. Quanto menos gelo, menos reflexão e mais rápido aquece. Você começa a ficar com a ideia? Tem que ser uma curva descendente no que chamamos de “decaimento exponencial”. E se você projetar essa linha no futuro, como foi feito neste particular … … conjunto de equações e entendimento da perda de massa de gelo do Ártico, então, mais uma vez, mostra zero gelo a flutuar no Oceano Ártico pelo final do Verão de 2015.

A temperatura média do mundo subiu apenas 1ºC, mas lá em cima no Ártico subiu 5ºC … O espelho que está no topo do mundo vai desaparecer. Não vai desaparecer no Inverno, mas o sol não está a brilhar sobre ele durante o inverno, logo … o que importa é o horário de Verão. Um dos principais efeitos que isto tem é que, quando todas estas áreas no norte estão cobertas de neve branca e gelo refletores, ressalta a maioria da energia solar para fora; ressalta-a de volta para o espaço. Mas quando estamos a ver mais e mais água aberta, solo escuro e superfícies escuras, então a energia solar tende a ser absorvida; assim, em vez de refletir 90% de toda a energia, está a absorver 90% de toda a energia, então … isto é o que os cientistas chamam de feedback positivo, e eles não querem dizer que é bom. Não é uma coisa positiva para nós, é mais como um ciclo vicioso. Mais calor significa menos gelo e menos gelo significa mais calor e apenas continua numa espiral e é isso que estamos a ver no Ártico.

[Prof. Kevin Schaefer] Aaah, permafrost! Aqui está. Terra congelada. A permafrost derrete; a matéria orgânica da permafrost derrete também e começa a decompor-se, os microorganismos começam a comê-la. Se não há oxigénio, os microorganismos fazem metano.

[Professor Martyn Poliakoff – Periodic Videos, youtube] Portanto, isto é metano. Um carbono com quatro hidrogénios à volta. CH4. O metano é o composto mais simples de carbono e hidrogénio. E é uma molécula extremamente disseminada em todo o mundo. É a base do chamado “gás natural”, o gás que se encontra fundo na Terra e o qual se pode perfurar e recuperar. É usado para aquecimento e energia em todo o mundo. Também é formado quando o material das plantas se decompõe. Se você tem um charco, um lago pequeno, e material de plantas cai lá dentro e decompõe-se no fundo, se você enfiar uma vara, bolhas de gás vêm para cima. Se você coletar esse gás pode de facto acendê-lo com um fósforo e ele arde, e eu fiz isso quando era mais jovem. O metano, quando passa para a atmosfera, comporta-se como o dióxido de carbono porque ele pode absorver a radiação, radiação infra-vermelha, e causar aquecimento global. E ele absorve a radiação pelas vibrações das ligações carbono-hidrogénio, nas vibrações quando elas esticam e também quando … vibram; chamadas de vibrações tesoura. O metano de facto absorve radiação de modo muito mais forte que o dióxido de carbono na atmosfera, mas o seu tempo de vida, a vida da molécula na atmosfera, é mais curto, porque, eventualmente, reage com o oxigénio e se transforma em dióxido de carbono.

[James Hansen] Há efeitos potencialmente irreversíveis no derreter do gelo do mar. Se começar a permitir que o Oceano Ártico aqueça e que aqueça o fundo do oceano, então vai começar a libertar hidratos de metano.

[Supreme Master Ching Hai] De acordo com Dr. Hansen, o nosso planeta está num caminho perigoso para passar um ponto de não retorno irreversível, com consequências desastrosas. Este … permafrost em derretimento, por sua vez, liberta gás metano tóxico, resultando em mais aquecimento da atmosfera. As razões porque os cientistas estão agora voltando as atenções para o metano é que a pesquisa mostrou que este gás tem uma capacidade de aquecimento 100 vezes maior do que o CO2 nos primeiros 5 anos. É muito lógico, cientificamente falando ou não.

[Peter Ward] O metano é muito pior do que o dióxido de carbono. Está inerte agora no solo, não está a afetar ninguém de nenhuma forma. Quando você o aquece torna-se gás, e então começa a agir imediatamente como um gás de estufa, logo, esta é uma ameaça imediata e de muito curto prazo para a civilização planetária.

[Jason Box] Isso é provavelmente o maior problema que enfrentamos. A elevação do nível do mar também é um grande problema, um muito caro de administrar, mas … a libertação de metano a partir da tundra, uma vez que se põe em curso, chegamos a um ponto em que perdemos a opção de ter uma estratégia eficaz de mitigação.

[Dra. Natalia Shakhova, Centro de Pesquisa Internacional do Ártico] Cerca de oito anos atrás começámos a estudar a Placa Continental do Ártico na Sibéria Oriental, e, na verdade, temos vindo a estudá-la durante os últimos oito anos continuamente, ano após ano, realizando uma a duas expedições por ano. Os hidrocarbonetos que são produzidos dentro da cortina sedimentar foram selados o que impediu o metano de escapar para a atmosfera. É por isso que estamos a dizer que esta deve ser a maior reserva de hidrocarbonetos de todas. O metano na atmosfera, a quantidade total de metano na atmosfera de carbono, é de cerca de 5 Gigatoneladas. A quantidade de carbono conservada sob a forma de metano na placa continental Siberiana do Árctico, é aproximadamente de centenas a milhares de Gigatoneladas. E, claro, apenas um por cento desse montante é necessário para duplicar a carga atmosférica de metano. Para desestabilizar um por cento desta reserva de carbono, acho que não é necessário muito esforço, considerando o estado do permafrost e a quantidade de metano atualmente envolvida, porque o que divide este metano da atmosfera é uma coluna de água muito rasa e uma permafrost a enfraquecer, que está a perder a sua capacidade para servir como vedante. Não a qualquer momento, eu acho que … A qualquer momento soa como pode acontecer hoje, pode acontecer amanhã, depois de amanhã … [Igor Semiletov] Pode acontecer a qualquer momento. – Você acha? – Eu estou pessimista. – O Igor está muito convencido, porque ele passou muito tempo lá. … e onde o gelo do mar devia ter cerca de 2 metros de espessura, tinha 40 centímetros de espessura. Isso significa que todos os processos servem a desestabilização; todos, o gelo do mar, a coluna de água, as correntes a aumentarem, com as correntes quero dizer o movimento da água sob o gelo do mar tem aumentado … tudo parece tão anómalo; mesmo a partir de nossa experiência destes 10 anos, tudo parece anómalo, e é isso que o faz … pensar que … fazendo-o pensar que … … o pior pode acontecer. – Não podemos excluir isso. Talvez seja de 5%, talvez seja menos, mas não podemos excluir, porque … – Em poucas palavras, não gostamos do que vemos lá. Absolutamente não gostamos.

A Extinção em Massa do Permiano é, em essência, é apenas a maior crise que a vida na Terra já sofreu. Pelo final da Extinção em Massa do Permiano, 95% de toda a vida no planeta estava morta. E por que é que isso é importante hoje? Porque hoje uma sexta extinção está em curso. Uma que vai testar a sobrevivência não apenas da civilização humana, mas possivelmente da própria espécie humana. E tem uma semelhança horrível a vários eventos anteriores derivados de aquecimento global, como a Extinção em Massa do Permiano. Durante a Extinção em Massa do Permiano, gases de efeito estufa foram libertados por erupções vulcânicas numa área que é chamada hoje de Armadilhas da Sibéria. Estas, juntamente com o calor do fluxo da própria lava, aqueceram a atmosfera da Terra em, pelo menos, 6ºC. Esse tanto de aquecimento global causou um número de baixas enorme nos animais terrestres e plantas mas, muito pior, aqueceu os oceanos o suficiente para que o metano, congelado sob o mar profundo, derretesse e fosse libertado para a atmosfera. Essa enorme libertação de metano, um poderoso gás de estufa, praticamente duplicou o nível de aquecimento global e matou mais de 95% de toda a vida tanto na terra como no mar.

Olhe para isto. Numa questão de … … dias, poucos dias, temos esta enorme área, olhe para isto, quase a explodir em metano. A única maneira que isso é possível é pelo derretimento de hidratos de metano. É simplesmente a única explicação. [Níveis de metano] [Mar de Laptev] Muitos de nós recusam-se a encarar a realidade.

Muitos de nós tentam fugir, escapar aos nossos deveres e identidades, aos nossos rostos e às nossas famílias, mas todas estas coisas permanecem. Todas as realidades permanecem, sempre que deixamos os nossos sonhos e voltamos para o mundo real.

Todos os Dias nas Notícias Vemos Evidência da Extinção Humana a Curto Prazo

Todos os Dias nas Notícias Vemos Evidência da Extinção Humana a Curto Prazo
Pela primeira vez na história os humanos estão em posição de destruir os prospectos para uma existência decente e a maioria da vida. O ritmo de destruição das espécies hoje é perto do mesmo de há 65 milhões de anos, quando uma catástrofe maior, presumivelmente um asteróide enorme, acabou com a era dos dinossauros abrindo caminho para os mamíferos proliferarem. A diferença é que hoje nós somos o asteróide e o caminho vai provavelmente ser aberto para os escaravelhos e bactérias quando tivermos concluído o nosso trabalho.
Pela primeira vez na história os humanos estão em posição de destruir os prospectos para uma existência decente e a maioria da vida. O ritmo de destruição das espécies hoje é perto do mesmo de há 65 milhões de anos, quando uma catástrofe maior, presumivelmente um asteróide enorme, acabou com a era dos dinossauros abrindo caminho para os mamíferos proliferarem. A diferença é que hoje nós somos o asteróide e o caminho vai provavelmente ser aberto para os escaravelhos e bactérias quando tivermos concluído o nosso trabalho.

Todos os dias, nas notícias, vemos evidência da extinção da humanidade a curto prazo. Vamos dar uma voltinha pelas publicações? Bem, talvez apenas a uma, por hoje, mas muito relevante!

Na página Facebook ‘End Ecocide in Europe’ acabram de publicar um artigo intitulado “Building an Ark For the Anthropocene” (Construindo uma arca para o Antropoceno) pelo New York Times. O artigo começa com “Estamos a rebolar para o Antropoceno, a sexta extinção em massa na história do planeta…” e continua fazendo referência a um estudo publicado na ‘Science’ que conclui que “as espécies estão a desaparecer 1000 vezes mais rápido do que o ritmo em que se extinguem naturalmente.” Este quadro dá-nos pausa; é triste e desesperante. Mas não é a razão porque este artigo mostra evidência de que nos vamos extinguir a curto prazo. É que logo a seguir continua “…condições meteorológicas extremas pelas alterações climáticas causam ainda mais danos. Em 2100, investigadores dizem, entre um terço e metade as espécies da Terra poderiam ser aniquiladas.” 2100!? Aí é que está a evidência! Tudo o que tem a ver com previsões de consequências do aquecimento global está a falar em 2100, uma data que não diz muito a ninguém que ainda esteja vivo hoje pois muito provavelmente já não estará cá. E é assim que se mostra preocupação pelo aquecimento global e se mantém a confiança das massas quando na realidade nem faz parte dos nossos planos principais e ninguém se vai apressar nas verdadeiras medidas para resolvê-lo (desligar o botão do CO2 e colocar energias renováveis e que tendem para custo zero em todo o lado) quando se fala numa data em que quase ninguém dos que cá andam hoje vai estar vivo nessa altura. E é por isso que nos vamos extinguir; não tanto pelo CO2, pois é de fácil resolução, mas pela distorção político-económica, que essa sim é difícil de abandonar. O gelo do Ártico levou uma tareia em 2012 e estava a cair a pique de tal modo que estávamos a prever vê-lo desaparecer pela primeira vez já em Setembro de 2015. Mas foi uma sorte que este ano não tivemos El Niño e muito do calor absorvido pelo planeta ficou nos oceanos Atlântico e Pacífico e a curva de degelo do Ártico aliviou um bocadinho. Bem, uma sorte talvez não, pois o calor acumulado ainda está lá e a acidificação do oceano é outro problema. Agora é previsto o Ártico desaparecer lá para 2018. Digam-me que as consequências de o Ártico ficar sem gelo devem focar-se no ano de 2100? O que é que se passa aqui então? Porque é que estes artigos focam todos estudos que referem a data de 2100 como referência de prognósticos? Que nos interessa ouvir dizer que talvez mais de metade das espécies vão desaparecer no final do século com um aumento de temperatura na ordem dos 6ºC se já daqui a 30 anos com um aumento de 3ºC já poderemos cá não estar (pois com um aumento de 0,85 que atingimos hoje, os oceanos e florestas estão a passar de absorventes de carbono a libertadores de carbono [1] e [2], para não falar no metano)? Não vêm o ridículo? o quanto a política é motivada por posse, estatuto e poder e está desalinhada das leis naturais? não vêm o mecanismo que nos está a levar à extinção? Não é fácil, eu sei, especialmente se andas a ver muita televisão ultimamente, mas vamos tentar. Talvez o artigo tenha algo mais para nos dizer…

“Como resultado, os esforços para proteger espécies estão a aumentar quando governos, cientistas e ONGs tentam construir uma versão da Arca de Noé.” Esta arca tem um sentido figurativo, segundo o artigo, e em vez de um barco trata-se de uma “manta de abordagens de remendos, incluindo migração assistida, bancos de sementes e novas zonas de preservação e corredores de passagem baseados em onde é que as espécies deverão emigrar enquanto os níveis do mar sobem e as fontes de alimento se esgotam.” Quando se fala abertamente em remendar a Natureza ao invés de resolver a verdadeira causa do problema, é sinal que a distorção humana foi abraçada com naturalidade. E é aí que está outra evidência de que nada se vai resolver e da certeza da nossa extinção. O artigo diz que esta é uma iniciativa do Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços de Ecosistema, fundada em 2012 por governos de 121 países. E então tudo faz mais sentido. “Trabalho de remendos” é algo típico de governos e o modelo de análise usado por governos, já sabemos, é o político, não o científico; foca-se em discursos e iniciativas com fachadas bonitas e no crescimento da economia, onde datas como 2100 dão imenso tempo para continuarem a investir em guerras, combustíveis fósseis e estratégia geopolítica de controle de outros países através da “Globalização”. Tudo o que mete “Painéis Intergovernamentais…” cheira mal. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) é acusado por cientistas climáticos veteranos (alguns dos quais anteriormente fizeram parte desse mesmo painel) de terem “projecções muito erradas e até o seu pior cenário (previsão) ser muito irreal pois não têm em conta o que está a acontecer no Ártico”, disse um destes cientistas, John Nissen, presidente do Arctic Methane Emergency Group. Ele acrescenta que estes cenários estão muito fora da zona de comforto do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que eles trabalham na base de que as coisas vão levar 100 anos para acontecer e isso parece perverter a sua análise. Artigos que apresentam cenários mais extremos, preocupantes, não são publicados e há um ciclo vicioso de supressão embutido nos procedimentos do IPCC, disse John Nissen. “Lembrem-se que é uma organização INTERGOVERNAMENTAL”, acrescentou ele., nesta entrevista.

Quando colocar painéis solares em cada telhado de todas as casas existentes teria um custo e seria um esforço que nem é merecedor da palavra “esforço” quando comparado com o dinheiro, energia e recursos despendidos no consumo cíclico e obsolescência planeada para manter a economia a funcionar, assim como no perpetuar do status quo e de indústrias monopolizadas que são completamente desnecessárias à sobrevivência e sustentabilidade do planeta (Cowspiracy, a conspiração da vaca, se quiserem, é outro documentário merecedor da vossa atenção, e pode ser visto aqui) para não falar do investimento na guerra e competição geopolítica de todos os dias… torna-se claro que a questão não é “Temos dinheiro para fazer isso?”, apesar de que sim, mesmo neste sistema “económico”, (ou devíamos antes dizer “antieconómico”) temos; mas sim “Temos os recursos e o conhecimento técnico?”; e a resposta é óbvia. Como Douglas Mallette explica tão bem neste vídeo, se conseguimos fornecer energia, abrigo, comida, ar limpo e todas as necessidades básicas aos astronautas numa estação espacial, por que raio não o conseguimos fazer a todas as pessoas aqui na Terra?